Quase 200 anos, um Brasil imperial, republicano, ditatorial e, novamente, republicano. Durante sua história quase bicentenária, o serviço de barcas no Rio passou por todos esses períodos. Para celebrar os 190 anos do transporte marítimo, a Praça Quinze recebe a exposição “Navegando em Memórias”.
A mostra reúne documentos históricos dos serviços de barcas, fotos, mapas, relatórios, pinturas e outros registros encontrados no acervo da concessionária. A surpresa veio por conta da riqueza histórica do material, que traz documentos da época do Império, como contratos assinados por Dom Pedro II, Visconde do Rio Branco e Barão de Mauá.
Há uma enorme variedade de peças para público e pesquisadores. O trabalho de pesquisa durou mais de um ano. Para garantir a correta preservação da memória, os quase 10 mil itens encontrados serão doados para o Museu Nacional. A diretora da CCR Barcas, Luciana Parpinelli, comentou sobre a proposta.
“Identificamos a existência de muitos documentos, mas não tínhamos noção da relevância. A história é algo que fica para sempre e não pode ficar guardada. Precisa ser contada e preservada da melhor forma possível para que as futuras gerações tenham acesso a essa documentação e que esse modal continue vivo por muito tempo, contando outras histórias”, disse.
Exposição interativa
Até dia 10 de fevereiro, a população poderá ver de perto fotos, documentos, painéis interativos, maquetes, um timão de 1980 (da embarcação Boa Viagem) e bancos de madeira originais da embarcação Ipanema, construída em 1969. O historiador responsável pelo estudo do acervo, Rafael Mattoso, explicou como foi o trabalho.
“A gente já sabia que existia, mas é muito bacana encontrar e revelar para o público uma documentação inédita. Acervos que mapeiam esses 190 anos de história do transporte coletivo mais antigo e importante da história imperial, colonial e republicana”, afirmou.
A exposição também gerou um livro trazendo as imagens e documentos. Na mostra, há ainda uma réplica de embarcação que permite aos visitantes viverem a experiência de entrar na cabine com painel de comando, bússola e um manete em formato original que vai encantar adultos e crianças.
“Essa exposição fala de um processo de navegar pelas memórias. A memória é seletiva e guarda aquilo que a gente acha que é precioso. Grandes navegantes sempre relataram a beleza da Baía de Guanabara e essa exposição também passa por esse panorama”, acrescentou Mattoso.
Documentos históricos
Entre os achados, também há fotos das primeiras embarcações, que datam de 1830, além de registros de 1865, contabilizando, inclusive, pessoas escravizadas. Para Rafael Mattoso, isto possibilita uma reflexão crítica sobre a história do Rio de Janeiro e também do Brasil.
“Há documentos históricos dos anos 1800, inclusive assinados pelo imperador Dom Pedro II. Fotos do século XIX que mostram pessoas na condição de escravizadas, ex-escravizadas e crianças trabalhando nos estaleiros. Documentações que ajudam a gente a refletir até criticamente sobre nosso passado”, complementou.
Inaugurada na última quarta-feira (22), a exposição ficará em cartaz até 10 de fevereiro, coincidindo também com o fim da operação da CCR nas barcas, cujo serviço passará para a empresa BK Consultoria. A mostra fica aberta, diariamente, das 10h às 15h, na Praça Quinze, e a entrada é gratuita.