O advogado Victor Travancas — que sempre ameaça deixar os cargos comissionados que ocupa no governo do estado, mas acaba ficando — foi exonerado, no Diário Oficial desta quarta-feira (8), da direção-geral do Arquivo Público do Estado do Rio. Ele havia tomado posse no posto em dezembro, quase um mês depois de nomeado e de ter afirmado que não iria aceitar a empreitada.
Nesta segunda-feira (6), Travancas anunciou o fechamento do Arquivo Público do Rio (Aperj), instituição com mais de 90 anos, que guarda a documentação da Delegacia de Ordem Política e Social (Dops) desde os anos 30.
Segundo o advogado, o prédio, que fica na Praia de Botafogo, está em condições críticas e apresenta “risco iminente de desabamento e incêndio”. Argumentou ainda que o sistema elétrico está obsoleto e o Corpo de Bombeiros não emitiu mais alvará de funcionamento. Travancas ameaçou denunciar a situação do edifício à Justiça e ao Ministério Público.
“Para garantir a segurança de todos, a interdição do prédio é uma medida necessária e urgente”, disse a Juliana Dal Piva, colunista do ICL Notícias.
A decisão foi muito criticada, inclusive por ex-diretores da instituição, principalmente no momento em que o período da ditadura militar está gerando altíssimo interesse, por causa do sucesso do filme “Ainda estou aqui”, sobre a família de Rubens Paiva, ex-deputado assassinado por torturadores.
Histórico de denúncias
Cláudio Castro (PL) nomeou Travancas no início de dezembro, depois de exonerá-lo do cargo de subsecretário adjunto do gabinete do governador. O advogado chegou a acusar o governo de querer mantê-lo refém enquanto a publicação de sua saída não acontecia. Durante todo o tempo em que esteve no gabinete, o advogado fazia denúncias — contra o próprio governo — a jornalistas, ao Ministério Público e à Polícia Federal. Muitas vezes, depois retirava os processos.
Travancas dizia que tentava, desde fevereiro, sua exoneração, que só saiu em dezembro, mas acompanhada da nova nomeação. Jurou de pés juntos que não assumiria o novo posto para poder “advogar contra o governo, porque não serei mais servidor”.
“Consegui o que queria, e não vou para a direção do Arquivo Público, do qual eu não entendo nada. Sou do compliance, não tenho nada a ver com arquivo”, disse, em 3 de dezembro.
Tudo mudou. Travancas não só tomou posse — com direito a arte especial para divulgar a nova empreitada — como prometeu fazer do arquivo um verdadeiro canhão, o tornando uma autarquia e realizando concurso público.