A cascata do Méridien ainda era a atração do réveillon quando os boêmios sonhavam com Kátia Flávia, Godiva do Irajá, e mergulhavam no Lagoa Azul, drinque lendário da Mariuzinn — boate que já teve Pelé, Leila Diniz e Domingos de Oliveira na lista de entrada.
A natural vocação do bairro para a criatividade boêmia foi abalada com o escândalo do metanol este ano, mas a paz e a caipirinha voltaram a reinar absolutas em suas areias e mesas. As barracas agora têm QR Code, Instagram e receitas coloridas, como o sucesso de 500 mL Copacabana da Drica Drinks, com vodca, maracujá e limão (R$ 35).
“Ainda bem que o povo já esqueceu o trauma e agora só quer beber e ser feliz. Faço com cachaça e vodka boa, que a galera gosta mais. Tem que gostar do que é bom, né? E só coloquei nomes de bairros, Copacabana, Botafogo (abacaxi com limão e hortelã) e Ipanema (morango com limão). Vendem muito bem”, explica Adriana Pastana, que “abandonou a vida de CLT” e não se arrepende da decisão de empreender na praia.
“Na festa, pessoal não tem paciência para esperar fazer nada, pega cerveja e bebe. É na pressa. Amo trabalhar na praia, a gente vive com liberdade e criatividade”, conta Adriana, hoje a Drica Beach.
Carioca Spritz, feito com licor artesanal de morango, espumante e água com gás é destaque do restaurante Pérgula, no Copacabana Palace
A capacidade de inovação do carioca nas areias também é o charme dos mais sofisticados endereços cariocas. Quem quiser ser Odete Roitman por uma noite pode degustar o delicioso Spritz Carioca, elaborado com licor artesanal de morango, espumante do Copa e Água com Gás, (R$ 60) do restaurante Pérgula, do Copacabana Palace, com vista para a icônica piscina do hotel.
Com os olhos do país voltados para a personagem de Débora Bloch, o centenário edifício art dèco que já hospedou de Einstein a Fred Astaire e Ava Gardner se tornou personagem de novela em “Vale tudo” e já “ultrapassou o nicho do luxo”, segundo diretor-geral da Belmond que o administra.
É o mais rentável de sua rede.
Assistir à queima de fogos do mais famoso endereço da Avenida Atlântica é privilégio para poucos, mas, mesmo assim, eles correram. No início de dezembro, todos os ingressos já estavam comprados, restando poucos para o Salão Azul a R$ 5,4 mil, divididos em até 12 suaves prestações.

Quem tem camarote de graça na praia é o morador apaixonado de Copacabana Moyses da Costa, há 40 anos trabalhando no mar. Pescador “dos mais antigos” da Colônia dos Pescadores do Posto 6, ele assiste à passagem de ano de sua vista privilegiada da praia desde que “só os terreiros de macumba vinham no fim do ano”. Hoje, os rituais religiosos foram antecipados para dar lugar à festa da virada.
Mas o branco, o champanhe para dar sorte, as flores e o ritual de pular as ondas e fazer pedidos a Iemanjá ficaram para sempre no coração dos cariocas.
“Não abro mão de vir para cá. É muita alegria, os shows são maravilhosos. E prefiro artista brasileiro. Lembro que a atração era a cascata do Méridien, mas hoje é tudo muito maior, mais bonito. A festa é incrível, não sou do tipo que fica amando só o passado não. Sinto falta é de Dorival Caymmi, que vinha fazer festa aqui com a gente”, elogia o pescador, que acorda todos os dias às 4h e às 5h já está nas águas em seu barco.
Jantares e festas nos hotéis da orla com open bar e bebidas liberadas a partir de R$ 2,7 mil
Nos hotéis de luxo, são oferecidos jantares a partir das 20h e festas que começam por volta das 21h30. Open bar, com champanhe, uísque 12 anos, vinho e drinks que não saem de moda como gim com frutas e Aperol. O “full buffet”, que o brasileiro chama de “bufê liberado” na livre tradução, e o ambiente com vista completam a bagatela que sai entre R$ 4,5 mil e R$ 6 mil.
Já no rooftop (ou terraço, em bom português!) do Grand Mercure Copacabana, a night é para os jovens e dispostos: nada de cadeira, sofá, assento zero. Mas bebidas e comidinhas liberadas em um “elegante coquetel” à beira da piscina com vista para os fogos. Nada mal né?
O lugar está disputado, vendas já no terceiro lote, a R$ 2,8 mil.
Já quem prefere se divertir de um ponto de vista diferente, de alto mar, desembolsa por volta de R$ 1,2 mil. Nos navios, o charme fica por conta da decoração, brindes como taças personalizadas e cardápio robusto de open bar, com canapés, bufê e até mini hambúrgueres para quem precisar de uma dose extra de calorias para aguentar até o fim da festa capitaneada por DJs. A saída é da Marina da Glória e a volta acontece lá pelas 3h.
Nos quiosques, já está difícil encontrar lugar para comprar ingresso. A maioria está com lotação esgotada. As atrações vão desde jantares preparados pelos chefs dos hotéis até opções mais em conta com rodízios de salgadinhos e open bar. De R$ 900 a mesa para 5 pessoas até R$ 1,9 mil o ingresso único, variando conforme os itens disponíveis nas cartas de vinho, sofisticações de brinde e variedade de bufês.
As opções vão de entrada com tábua de frios e ceia com os clássicos da comida brasileira como o arroz à piamontese e escalopinho, que pulou do Dia dos Namorados para o réveillon de Copacabana, até o céu é o limite da gastronomia internacional.
Da suíte onde Odete Roitman foi assassinada, o mais cool dos endereços para os adoradores do mainstream, ao drinque da Drica do ladinho da Colônia dos Pescadores, Copacabana oferece seu sabor democrático e sua geografia privilegiada — já chamada de colar de pérolas pelas luzes no calçadão abaulado — para mais uma festa inesquecível da alma carioca.

