Hoje eu acordei pensando em escrever algo elogioso sobre a cidade onde moro, vivo e serei cremado. A minha cidade. Afinal, ela é o cenário do meu cotidiano, das minhas muitas alegrias e poucas tristezas, das minhas certezas e inseguranças. Em todas as situações ela me abraça e me acolhe, fornecendo alternativas para vivenciar cada momento e cada sentimento.
Templos religiosos, bares, estádios, praias, restaurantes, colégios, teatros, shoppings, clubes, cinemas, parques e favelas, são lugares disponíveis e desfrutáveis para que eu possa entender, sentir e aproveitar cada um dos meus estados de espírito.
Mas sinto enorme dificuldade para descrever a minha cidade. Ela é dinâmica. Mutável. Qual cidade descreverei, a de agora ou a de ontem?
A cada dia uma nova avenida, um novo viaduto, um túnel, um recapeamento asfáltico. Um inesperado vazamento d’água inunda ruas e paralisa o trânsito. O mar em ressaca afasta banhistas e joga areia nas avenidas costeiras. Um assalto ali, um arrastão acolá. Uma magnífica exposição artística lota o CCBB. Uma apresentação de balé enche o Theatro Municipal.
Ensaios de Escolas de Samba movimentam o final de semana suburbano. O Piscinão de Ramos substitui as praias distantes. Novos restaurantes. Novas lojas. Novos shoppings. Novas igrejas, ah! muitas novas igrejas. Modismos como os “baixos” proliferam e invadem as ruas e calçadas. VLT, metrô e BRT são sinônimos de transportes de massa, novidades que chegaram chegando. Asas-deltas de um lado, trem da Central do outro. Aterro do Flamengo e Parque Madureira.
Sumiu o Angu do Gomes, entraram os hot-dogs e hambúrguers. Food Trucks chegaram muitos, ficaram poucos. Por sorte, os “podrões” sobrevivem. E como estão os ovos coloridos nos botequins que se prezam? Bolinhos de feijoada. Os botequins Sam Bar, Umas e Ostras, Cachambeer, Só Kana perenizam a tradição de nomes dúbios e criativos, já seguidos na Lapa pelo caçula Suru Bar.
A exuberância dos arvoredos no Jardim Botânico e na Floresta da Tijuca. Cachoeiras e esquinas para ebós e despachos de umbandistas sob os abertos braços do Cristo Redentor. Ketchup sobre a pizza. Aplausos ao pôr do sol, no Arpoador. Cearenses ensinando técnicas de sushi aos japoneses. Biscoitos Globo. Chopp com colarinho antes, durante e depois da praia. Os conterrâneos matando as saudades no Centro Luiz Gonzaga de Tradições Nordestinas, pertinho do multifacetada Cadeg, ali no bairro que mudou de nome para homenagear o meu Vascão.
Como falar sobre uma cidade tão mutável que, ao terminar de escrever esta frase, ela já não será a mesma? No curto espaço de tempo gasto na redação deste texto, certamente crianças nasceram, pessoas morreram, turistas chegaram e saíram. Choveu em alguns bairros e o sol brilhou em outros. E a minha cidade já terá se adaptado a tudo isso.
E eu a ela.
Eu e a minha cidade nos entrelaçamos, convivemos, e fazemos verdadeira a poesia de Fernando Pessoa ao comparar o Tejo com rio da sua aldeia. Já eu digo, orgulhosamente, que a minha cidade, com todos os seus defeitos, é melhor do que Paris, New York ou Londres, porque nenhuma dessas é a minha cidade.
Calor? O quê? Alguém falou 40 graus? Que bom, vai dar praia!
*Cidade do Rio de Janeiro, 459 anos em 01 de março de 2024
Você é um fenômeno!
Parabéns para cidade Maravilhosa e também para autor do lindo texto. Prezado Sr. Alfeu, concordo plenamente com suas palavras e assisto tudo isso diariamente, do camarote de minha cidade magníficaNITERÓI….
Um abraço,
M. Boia
Esse é um grande cronista!!
Linda declaração de amor a essa cidade belíssima muito bem representada pelo Cristo Redentor, que de braços abertos acolhe a todos.
Alfeu, “grande amigo”,
A depender do meu voto, é só marcar a data para vc vestir
o “fardão” da Academia Brasileira de Letras.
Abs.
Perfeito.
Adoro seus textos.
Tenho guardado com muito carinho os livros que escrevestes. Excelentes.
Parabéns por mais um lindo texto , uma bela homenagem a nossa cidade maravilhosa .
,
Texto maravilhoso, muito bem escrito, super agradável se se ler pq, ao mesmo tempo que lemos as imagens vão passando em nossas mentes, a emoção , admiração e o prazer de ser do Rio de Janeiro e de ter o seu cotidiano vivenciado em toda plenitude nessa Cidade Maravilhos que está entranhada em vc e que faz parte de sua histõria de vida, transpira em cada palavra que vc escreve, é muito Amor, muita empatia. Amei ler seu lindo texto e compreendií tudo o que disse pq já morei aí, como esposa de militar em 2 períodos diferentes, como vc mesmo afirmou cada um deles com realidades diferentes. Parabéns!
Texto maravilhoso, muito bem escrito, super agradável se se ler pq, ao mesmo tempo que lemos as imagens vão passando em nossas mentes, a emoção , admiração e o prazer de ser do Rio de Janeiro e de ter o seu cotidiano vivenciado em toda plenitude nessa Cidade Maravilhos que está entranhada em vc e que faz parte de sua histõria de vida, transpira em cada palavra que vc escreve,. É muito Amor, muita empatia. Amei ler seu lindo texto e compreendií tudo o que disse pq já morei aí, como esposa de militar em 2 períodos diferentes, como vc mesmo afirmou cada um deles com realidades específicas .Parabéns!
Gostei muito do texto. Agui
Sempre impecável nos seus textos! Perfeito! Parabéns a você e parabéns Rio de Janeiro! Penso que todos fomos adotados e amados pela cidade maravilhosa! Afinal, como cantou Gil, “o Rio de Janeiro continua lindo!!!!
Amei o texto.
Ouço muito sobre o meu Rio e, não me importa se alguns fazem por desmerecer o meu Rio, continuo encantada e completamente fascinada por ele.
Alfeu, je vais m’exprimer dans ma langue natale pour dire tout le plaisir que j’ai à lire tes mots, à en déguster les émotions libérées …
Avec toi Rio n’est plus une ville. Rio est mère, sœur et amoureuse. Et tu en es le fils, le frère et l’amoureux . Felicidade!