A reintegração de posse realizada pelo Exército em Barra de Guaratiba, na última quinta-feira (4), causou indignação entre os vereadores Gigi Castilho (Republicanos), Felipe Pires (PT) e William Siri (PSOL). Parlamentares denunciam que a ação ameaçou a permanência de mais de 80 famílias na região e resultou no fechamento do tradicional Restaurante Tropicana, referência local há mais de três décadas.
De acordo com relatos, não houve nenhum aviso prévio para a reintegração. Moradores afirmam também que não tiveram tempo hábil para contestar a decisão judicial, e os parlamentares defendem que o Governo Federal, por meio do Ministério da Defesa e da Superintendência do Patrimônio da União (SPU), busque uma solução negociada e responsável com as famílias.

‘As pessoas estão desesperadas’
“Ali há pessoas que moram há mais de 50 anos. Têm filhos, netos, restaurantes. As pessoas estão desesperadas. É uma vida inteira naquele bairro. Vamos correr atrás, de mãos dadas, e vamos para cima. Podem contar comigo”, afirmou Gigi em vídeo nas redes sociais, após visitar o local pessoalmente.
Em publicação anterior, a parlamentar já havia criticado duramente a condução do processo, enfatizando que a ação deixaria diversas pessoas sem moradia e colocaria muitos em situação de desemprego, afetando diretamente moradores, comerciantes e pescadores.
Parlamentar diz que vai exigir explicações do Comando Militar do Leste
Já o líder do PT subiu à tribuna para denunciar o que chamou de “covardia institucional”. O parlamentar afirmou que a medida atinge de forma desproporcional uma comunidade tradicional e exigiu explicações do Comando Militar do Leste sobre o real interesse na área.
“Na semana passada, uma residência de 75 anos foi demolida. Uma mãe e um filho foram parar na Baixada, e o pai está morando de favor, com os móveis, em um quartinho cedido por um vizinho. Isso é inaceitável. Não é só com o restaurante. São mais de 80 casas notificadas, cada uma com um processo. É um ataque direto aos povos tradicionais da região”, disse.
‘Estão agora sem saber o que fazer’
Também crítico à operação, William Siri apontou a ausência de alternativas sociais para os atingidos.
“Mais de 80 famílias caiçaras estão sendo despejadas de onde vivem há gerações. Crianças, idosos e trabalhadores estão agora sem saber o que fazer ou para onde ir. Uma comunidade que sempre existiu ali está sendo desmontada diante dos nossos olhos”.
O que o Exército disse sobre a ação em Barra de Guaratiba
Em nota divulgada logo após a repercussão do caso, o Exército informou que a operação do Centro Tecnológico do Exército (CTE) teve como objetivo reintegrar a posse de área pertencente à União, localizada na Estrada Roberto Burle Marx, 130, em Guaratiba.
“Trata-se de um estabelecimento comercial (Restaurante Tropicana) situado em área de proteção ambiental (Reserva de Guaratiba – RBG)”, diz a nota.
De acordo com o órgão militar, a ação foi realizada em cumprimento a uma determinação judicial que tramita na 30ª Vara Federal da Seção Judiciária do Rio desde 12 de agosto.
“A reintegração de posse foi realizada na presença e sob a coordenação dos Oficiais de Justiça da Justiça Federal, garantindo a legalidade e a transparência do ato. Toda a ação ocorreu em observância às leis vigentes e ao devido processo legal, visando à preservação do patrimônio da União”, finalizou o Exército.
O que disse o Restaurante Tropicana
Um dia após a ação, o estabelecimento publicou uma nota nas redes sociais dizendo que viveram um momento desafiador que impactou não apenas a equipe, mas toda a comunidade que caminha há mais de três décadas com eles em Barra de Guaratiba.
“Antes de qualquer explicação, expressamos nossa profunda gratidão aos moradores do bairro, aos pescadores, aos colaboradores, à nossa família e aos amigos que estiveram ao nosso lado no momento mais difícil da nossa história, com sua presença, carinho e respeito, nos lembraram do verdadeiro sentido de pertencimento”, diz parte do comunicado.
‘Tropicana trabalha como agente ativo de paisagem cultural’
Além disso, enfatizaram que o restaurante nasceu da própria história do bairro, construído com as mãos e a memória caiçara. E que “há três décadas, o Tropicana trabalha como agente ativo de paisagem cultural, mantendo práticas que conservam o ecossistema com eficácia documental registrada e comprovada.”
“Utilizamos o território para fins econômicos sustentáveis, construindo uma relação singular com a natureza e realizando ações contínuas de cuidado ativo: plantio de mais de três mil mudas nativas, limpezas periódicas no manguezal, manutenção e valorização do espaço. Compartilhamos o território com o mangue, não somos apenas um comércio, mas a expressão viva da cultura caiçara, da pesca artesanal e dos modos de preparo culinários tradicionais”, disse.
‘Lamentamos profundamente’
Por fim, destacou que não pode ignorar a memória, história, reflorestamento e serviço ambiental do restaurante, e todo esforço que foi construído ao longo de mais de 30 anos de investimentos, fortalecendo a economia local, o modo de economia circular e o sustento de centenas de famílias.
“Lamentamos profundamente a desconsideração desse impacto econômico, social e cultural, que hoje atinge tantas pessoas de forma direta, configurando uma condenação da memória cultural que há décadas ajudamos a preservar”, finalizou o estabelecimento.


Trabalho no Tropicana quase 9 anos e fico indignada com essa situação tenho uma filha e estou desempregada, mais de 80 pessoas estão desempregadas no final do ano sem saber o que fazer