2025 marca a despedida de alguns dos blocos de rua mais tradicionais do Rio de Janeiro. O Imprensa que eu Gamo, criado há mais de 30 anos, não voltará a desfilar nas ruas da cidade após este carnaval. O Suvaco do Cristo, criado em 1985, por sua vez, já anunciou que também sairá de cena em 2026.
Os dois blocos são conhecidos por trabalharem com o modelo “carro de som” e representam um carnaval de rua mais tradicional, contando com sambas-enredos próprios. O estilo vem perdendo espaço para os chamados “blocos de fanfarra”, que cruzam a cidade de forma mais fluída e menos rígida.
Para a presidente da Associação Independente dos Blocos de Carnaval de Rua (Sebastiana) e fundadora do Imprensa que eu Gamo, Rita Fernandes, as duas despedidas indicam que há uma “mudança de ciclo” no carnaval carioca.
“As coisas no carnaval se transformam sempre, principalmente no carnaval de rua. Existe a mudança de um ciclo. Ainda tem espaço para alguns blocos que trabalham no modelo de carro de som, mas a gente já vê nitidamente, com o que vem acontecendo nos últimos anos, a mudança de comportamento para um carnaval mais fluído e menos engessado” diz a presidente.
Novos foliões
O fim do Suvaco do Cristo e do Imprensa que eu Gamo, não são os primeiros casos. Após a pandemia, o Escravos da Mauá e o Bloco de Segunda também deixaram de desfilar. Além da mudança de comportamento dos frequentadores, outro motivo vem da ausência de herdeiros. Com as novas gerações de foliões, há uma transformação de formato.
Mas, para Rita Fernandes, o fim não é necessariamente uma sentença, capaz de apagar a história do carnaval de rua do Rio.
“Agora são as fanfarras, daqui a pouco a gente não sabe, pode mudar tudo de novo. O carnaval é feito de ciclos que acompanham os comportamentos sociais, as mudanças da sociedade e os fluxos das cidades. As cidades, a sociedade e as pessoas vão mudando” completa a presidente da associação.
Suvaco ‘sai da rua para entrar na história’
Fundador e presidente em exercício do Suvaco do Cristo, João Avalleira comentou sobre o encerramento das atividades. Parafraseando o ex-presidente Getúlio Vargas, afirmou que “o Suvaco sai da rua para entrar na história” porque considera sua missão cumprida.
“O Carnaval de rua foi revitalizado e renovado de uma forma incrível. Temos blocos de todas as cores, de todos os ritmos musicais, de todos os gêneros. Por isso, a nave do Suvaco pode pousar e repousar tranquilamente”, afirmou.
Avalleira também destacou que ainda existe uma dificuldade na gestão do carnaval em dosar a necessária organização da cidade nessa época com a burocratização e controle excessivo de uma festa com fortes raízes libertárias e transgressoras.
“Não é o fim. É o início de uma nova era do carnaval de rua. E isso acontece em locais que até tempos atrás não tinham tanta tradição na folia de rua, como São Paulo e Belo Horizonte”, acrescentou.
Os remanescentes
Enquanto alguns blocos tradicionais se despedem, aqueles que seguem passam a ter a missão de manter a tradição da folia de rua. No último fim de semana, os foliões cariocas tiveram um cardápio vasto de opções gratuitas, com mais de dez blocos se apresentando na cidade.
Sábado, a manhã começou com o Crack da Década, nos Arcos da Lapa. O dia ainda foi de ensaio do Desliga da Justiça, ao lado dos Piratas do Axé, no Centro. Durante a tarde, foi a vez do Labelle Bloco passar pelo Méier. Já em Olaria, teve ensaio de rua do Cacique de Ramos. A noite começou com Samba Bloco de Areia, em Botafogo, e ainda teve Bola Preta na Quadra do Salgueiro, fechando o sábado.
No domingo, aconteceram ensaios por toda a cidade (e do outro lado da ponte). Do Braba Igual a Mãe, na Tijuca, passando pelo Traz a Caçamba, no Baixo Lapa, ao Não Monogamia Gostoso Demais, no Boulevard Olímpico, a tarde também foi de Universibloco, na Praça XV e Planta na Mente na Quadra da Unidos de Santa Marta, em Botafogo.
Ainda na Zona Sul, teve Tambores de Olukun, no Aterro do Flamengo e Xepa Gloriosa, na Glória. A Fundição Progresso, na Lapa, ainda recebeu o ensaio da Orquestra Voadora. Em Niterói, rolou ensaio da Sinfônica Ambulante, em Icaraí.