Durante delação premiada à Polícia Federal, o ex-policial militar e Ronnie Lessa confessou que recebeu uma oferta de uma espécie de “sociedade” dos irmãos Domingos e Chiquinho Brazão como recompensa pela morte da vereadora Marielle Franco. A proposta, que ele classificou como “negócio da sua vida”, envolvia a cessão de um loteamento clandestino para ele explorar serviços, como gatonet e transporte alternativo.
Lessa detalhou o crime pela primeira vez e apontou os irmãos como os mandantes durante um vídeo da delação exibido pelo Fantástico, na noite deste domingo (26). Ronnie e seu comparsa, o ex-PM Edimilson de Oliveira — o Macalé, morto a tiros em 2021, receberiam como prêmio pela morte da vereadora dois lotamentos na Praça Seca, Zona Oeste do Rio, onde ele atuaria como chefe da milícia. Lessa acredita que os terrenos valeriam milhões de reais no futuro. O lucro dos dois, somados, chegaria a R$ 100 milhões: “são 500 lotes de cada lado”, destacou Lessa.
“Era muito dinheiro envolvido. Na época, daria mais de 20 milhões de dólares. A gente não está falando de pouco dinheiro… Não é uma empreitada para chegar ali, matar uma pessoa, ganhar um dinheiro… Não”, afirmou
Segundo a delação, o primeiro encontro entre os irmãos Brazão e os contratados para a execução de Marielle foi em 2017, quando Macalé foi solicitado. Na época, ele era próximo aos mandantes. Foi Macalé que convidou Ronnie Lessa a participar da ação. Ao todo, ele relatou que foram três encontros para tratar do plano.
Segundo Lessa, Marielle era vista como “uma pedra no caminho” nos planos de expansão territorial da milícia em Vargem Grande. Nas reuniões, ele afirma que Domingos falava mais, enquanto Chiquinho apenas concordava.
Ele disse ainda havia solicitado uma pistola para executar o crime, mas Macalé entregou a ele uma submetralhadora. A arma foi devolvida após o crime, o que para Lessa foi um erro “deveria ter ido para o lixo”.
Infiltrados no clã
De acordo com a delação, a vereadora Marielle Franco não foi a primeira opção dos irmãos Brazão: antes havia sido discutido o nome do ex-deputado federal Marcelo Freixo. O assassino afirmou que outros políticos do PSOL, então partido de Freixo e Marielle, também foram monitorados.
Os irmãos Brazão infiltram no partido Laerte Silva de Lima, miliciano de Rio das Pedras responsável pelo recolhimento e repasse das taxas pagas pelos comerciantes e moradores aos paramilitares; e sua mulher, Erileide Barbosa da Rocha. “Não somente em relação à Marielle. Ele falava sempre do Marcelo Freixo. Falava do Renato Cinco. Tarcísio Motta… Falava dessa pessoa. E demonstrava, assim, um interesse diferenciado por essas pessoas do PSOL”, afirma Ronnie Lessa.
Os citados da delação negam as acusações e dizem que não há provas para sustentar a narrativa de Ronie Lessa.
Com informações do Fantástico