Terça-feira, dia 13 de maio de 2025. Naquele dia, dois fatos ocorreram envolvendo duas brasileiras. Um teve enorme repercussão na mídia nacional. O outro quase passou desapercebido, e fiquei indignado com isso. Vamos falar dele.
O World Food Prize é o mais prestigiado prêmio internacional na área de agricultura e segurança alimentar e foi criado em 1986 pelo biólogo Norman Borlaug, vencedor do Nobel da Paz (1970). O prêmio homenageia pessoas que contribuem para melhorar a qualidade, quantidade e disponibilidade de alimentos no mundo. É considerado o Nobel da Agricultura e reconhece cientistas, líderes e empresários que ajudam, em qualquer parte do mundo, a combater a fome e promover a segurança alimentar.
Em bom português, esse Prêmio Mundial de Alimentação é concedido anualmente pela World Food Prize Foundation, nos Estados Unidos, e é tão relevante que que o vencedor é agraciado com a bagatela de 500 mil dólares.
No último dia 13 de maio, foi anunciado que a laureada deste ano é a brasileira Mariângela Hungria. Ela é engenheira agrônoma e pesquisadora da Embrapa. Seu trabalho revolucionou a agricultura ao desenvolver técnicas de fixação biológica de nitrogênio, elemento essencial para o crescimento dos vegetais, permitindo que plantas como a soja, o milho, o feijão e o trigo absorvam aquele nutriente do ar sem a utilização de fertilizantes sintéticos e aumentando a produtividade. Essa inovação ajudou a reduzir custos e impactos ambientais, tornando a produção agrícola eficiente e mais sustentável. Ela receberá a premiação em outubro deste ano.
Mariângela dedicou mais de 40 anos à pesquisa e enfrentou desafios para provar que os bioinsumos poderiam substituir fertilizantes químicos. Hoje, sua tecnologia é usada em 85% da produção de soja no Brasil, economizando aos agricultores mais do que 20 bilhões de dólares por ano em custos de insumos e reduzindo, também anualmente, mais de 200 milhões de toneladas de emissões equivalentes de gás carbônico (CO2).
Graduada em engenharia agronômica (Esalq/USP), Mariangela tem mestrado em solos e nutrição de plantas (Esalq/USP), doutorado em ciência do solo (UFRRJ) e pós-doutorado em três universidades estrangeiras: Cornell, California-Davis e Sevilha.
Ela é a primeira mulher brasileira a ganhar esse prêmio e se tornou um símbolo da agricultura sustentável e feminina. Sua trajetória inspira cientistas e agricultores a buscarem soluções inovadoras para alimentar o mundo sem prejudicar o meio ambiente.
Eu poderia me estender detalhando a biografia e os muitos méritos da nossa cientista, e ela seria muitíssimo merecedora. Não é esta, todavia, a razão de ter feito este texto. O objetivo aqui é registrar meu protesto e minha indignação e vocês entenderão o motivo dessa minha revolta. Certamente algumas pessoas tiveram ciência desta honrosa premiação ao ler a notícia no recanto de alguma irrelevante página interna de jornal. Sim, amigos, porque a nossa grande mídia, naquele dia 13 de maio, preferiu privilegiar, com manchetes e chamadas de primeira página, uma outra brasileira. Naquela data a imprensa preferiu — e deu destaque — ao circo estrelado pelo depoimento da influencer Virginia Fonseca (insisto que a maioria desta classe sobrevive porque existem os idioters) e à tietagem por ela sofrida pelos seus inquisidores na CPI das Bets, no Senado Federal.
Acredito que naquele dia os editores dos meios de comunicação (e aqui incluo rádios, televisões, revistas e redes sociais) expuseram o que desejam para o futuro do Brasil. Eu, infelizmente sem ter nenhuma influência para modificar a preferência deles, me coloco do lado oposto. Posso contar com vocês?
Rio, 2025
Parabéns a essas brasileiras cujo trabalho nos enche de orgulho e comida na mesa além de gerar divisas com as exportações. Ainda bem que o Alfeu resolveu fazer uma homenagem a elas e eu me associo a ele nesta homenagem escrita.
Que linda trajetória.
Realmente a mídia falhou .
Parabéns para ela pelo grande êxito.
Botou furando. Essa mídia só quer saber de oba oba.? Muito bom que chegasse ao conhecimento de muitos que valorizam a banalidade. Abs
Ambas são escolhas políticas acertadas por representarem ética, compromisso público e responsabilidade na gestão.
Parabéns, Alfeu!
Confesso que não tomei conhecimento desse fato , mas por outro lado pouco me importei com a envolvida na segunda parte da questão , embora o assunto bets esteja no centro de discussões mais complexas , dar holofotes a ela não faz parte dos meus planos , e mais uma vez obrigado por compartilhar conosco seu vasto conhecimento.