“O aluno da UFRJ sofre com um problema novo a cada semana”. Foi assim que o estudante de educação física Júlio Takeichi descreveu a Universidade Federal do Rio de Janeiro, onde estuda desde 2021. De lá para cá, o aluno já enfrentou greves, paralisações no bandejão, perda de aulas por causa de tiroteio, falta de aula e um semestre inteiro sem estudar depois que parte do prédio onde as aulas eram realizadas caiu — e, inclusive, dois anos depois ainda não foi consertado.
Não é novidade que universidade enfrenta dificuldades financeiras. No entanto, os alunos enfrentam problemas que vão além dessa questão. Na última semana, acadêmicos do curso de Educação Física ficaram quatro dias sem ter aula. Os motivos? Falta de água e tiroteio na cidade do Rio.
“É bem recorrente o cancelamento da aula devido à operação. Por causa do perigo, a Escola de Educação Física geralmente cancela as aulas ou sugere o abono de faltas e a não realização de avaliações em dias de operações”, Takeichi.
Em nota enviada ao TEMPO REAL, a UFRJ informou que, devido às operações policiais em seu entorno, determinou que não houvesse aplicação de provas e avaliações e que não fossem cobradas presenças dos estudantes e servidores Técnicos Administrativos em Educação (TAEs).
A medida se estendeu aos campi da Cidade Universitária, Praia Vermelha, Centro e Duque de Caxias. Ainda de acordo com o texto, o problema de falta de água foi pontual e “não houve cancelamento de aulas” — algo que não foi seguido por alguns professores.

Outra reclamação dos estudantes são os problemas enfrentados por causa da falta de segurança dentro do campus — que vão desde de roubo de rua até furto de equipamentos dentro da instituição. Mariana Garcia, estudante de Geologia na instituição, comentou sobre a situação.
“A segurança no fundão é algo bem complicado, já furtaram diversos aparelhos de ar condicionado no Instituto de Geologia, já que o prédio não tem nenhuma proteção”, disse.
Procurada, a Polícia Militar informou que realiza policiamento frequente nos acessos à Ilha do Fundão. Segundo a corporação, somente este ano, cerca de 100 criminosos foram presos na área de circunscrição da unidade, com redução de 27% no roubo de rua na área.
Já a Polícia Civil, destacou que são as ações de grupos criminosos que exploram comunidades, cerceiam o direto de ir e vir da população e promovem confrontos por disputas territoriais.
UFRJ tem R$1 bilhão a menos do necessário para funcionamento, diz diretor de sindicato
No governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), a universidade sofreu uma série de cortes no orçamento. Em 2023, o governo Lula (PT) voltou a ampliar os recursos, mas os valores não são suficiente para sanar as dívidas da instituição. É o que explica o diretor do sindicato de professores (AdUFRJ), Rodrigo Fonsceca.
“A UFRJ enfrenta uma crise financeira dramática, com um orçamento de quase R$ 1 bilhão a menos do que seria necessário para garantir o funcionamento pleno da instituição e a execução de obras iniciadas e não terminadas”, declarou o professor.
Segundo Fonseca, essa defasagem do orçamento compromete a manutenção básica da universidade, afetando desde serviços de limpeza até atividades acadêmicas essenciais e sobrecarrega os professores.
A universidade, por sua vez, informou que o orçamento para este ano de é de R$ 406 milhões. O número é 52% menor que o ano de 2012 — de R$ 784 milhões. Hoje, a universidade tem 154 prédios e estima que 75% deles necessitem passar por reformas estruturais urgentes.

Corte de orçamento da UFRJ causa problemas de infraestrutura
Esse corte de gastos afeta não só a parte administrativa, mas também o dia a dia dos alunos, professores e funcionários.
“Como não estamos mais tendo aula no nosso prédio por causa do desabamento, somos realocados para outros campus. E quando não tem sala, geralmente a aula é cancelada”, contou Julio Takeichi.
Em setembro de 2023, parte da marquise do prédio da Escola de Educação Física desabou. Oito meses depois, em maio de 2024, a parede de um corredor caiu. De lá para cá, várias vistorias foram feitas, mas nada mudou.
Os estudantes chegaram a ficar um semestre inteiro sem aula e não houve entrada de calouros para o curso no primeiro semestre deste ano. Até hoje, o prédio está fechado, sem aulas e sem manutenção.
Mas o problema que os cortes de gastos ocasionam aos alunos não é só para os estudantes de educação física. Na Geologia, Mariana Garcia afirma haver uma série de problemas com os ônibus da UFRJ para as pesquisas de campo.
“Na maioria das viagens de pesquisa acontece alguma coisa com o ônibus. Os motoristas constantemente remendam ele, dando um jeito de continuar funcionando, mas são todos velhos”, explicou Mariana. “Atualmente, o instituto tem só um ônibus funcionando. Temos três, mas só um que roda. E todos são velhos. Em 2017, um professor abriu um processo para a compra de uma frota nova, mas nunca andou para a frente, todo ano é aberto novamente”, concluiu.
Em fevereiro deste ano, ela e outros alunos do curso ficaram parados na beira da estrada por 5 horas após o ônibus da faculdade apresentar defeito.
Para tentar driblar os desafios da crise financeira, a UFRJ vai vender 11 andares de um prédio, no Centro do Rio, onde hoje funciona a escola de música. O dinheiro deve ser investido nos prédios da instituição.
Veja, na íntegra, o que diz a UFRJ
“O orçamento da UFRJ para 2025 é de 406 milhões, 52% inferior ao de 2012, há 13 anos, que era de R$784 milhões (corrigidos pelo IPCA).
Reforma do prédio de Educação Física
A reforma da cobertura dos blocos A e B do prédio da Educação Física está sendo considerada prioridade pela UFRJ. A obra terá o projeto básico elaborado pelo Escritório Técnico da Universidade (ETU) e será custeada com recursos da própria universidade e da Escola de Educação Física e Desportos (EEFD). Atualmente, as aulas são ministradas fora do prédio da EEFD, em outras unidades acadêmicas, em dois campi da UFRJ: na Cidade Universitária e na Praia Vermelha. Os ensaios técnicos para verificação do estado da cobertura dos ginásios já estão sendo realizados.
Situação dos ônibus para atividades de campo
Tendo em vista o cenário de subfinanciamento, a UFRJ tem como medida de redução de gastos a diminuição da frota oficial, que gera o custo de R$ 2 milhões anuais em manutenção. Para atender às demandas de viagens, a Universidade está firmando um contrato de locação de ônibus, vans e micro-ônibus para uso programado, conforme a necessidade. A previsão é de que esse contrato entre em vigor até o início do segundo semestre de 2025.
Água
As dívidas com contas de energia e água estão equacionadas e atualmente estamos adimplentes com as empresas prestadoras desses serviços. As operações de manutenção realizadas pela Cedae no Sistema Guandu, no dia 20 de maio, afetaram o abastecimento de água na Cidade Universitária, o que foi normalizado dentro do prazo previsto. Não houve cancelamento de aulas.
Impacto das operações policiais em diferentes pontos do Rio
No dia 13 de maio, em função da situação de operação policial no Complexo da Maré, na Zona Norte do Rio de Janeiro, e da interdição de vias expressas, a UFRJ determinou que não houvesse aplicação de provas e avaliações e que não fossem cobradas presenças dos estudantes e servidores Técnicos Administrativos em Educação (TAEs). A medida se estendeu aos campi da Cidade Universitária, Praia Vermelha, Centro e Duque de Caxias.”