O governador em exercício Rodrigo Bacellar (União Brasil) assinou o ato de exoneração do secretário estadual de Transportes, Washington Reis, publicado em edição extraordinária do Diário Oficial desta quinta-feira (03). Bacellar está no comando do governo até domingo, quando o titular, Cláudio Castro (PL), volta da viagem a Portugal, onde participa do Fórum Jurídico de Lisboa.

O clima entre Washington e a base de Castro na Assembleia não está nada bom há semanas. Mesmo integrando o primeiro escalão do governo, o secretário e presidente do diretório estadual do MDB se recusava a apoiar o candidato do governador à sua sucessão.
E o mais grave: fazia sucessivos acenos ao principal nome da oposição, o prefeito Eduardo Paes (PSD). Os deputados mais leais a Bacellar se revezavam ao microfone do plenário cobrando uma atitude mais firme do governador contra a “deslealdade” de Reis e de outros aliados.
Apesar da pressão, Castro manteve silêncio sobre a permanência do emedebista na pasta, uma das mais importantes do governo.
A nota oficial de Washington Reis
Por meio de sua assessoria, o agora ex-secretário enviou uma nota oficial.
“Recebi com surpresa, por meio da imprensa, a informação de que o ‘governador’ em exercício do Rio de Janeiro assinou minha exoneração do cargo de secretário de estado de Transporte e Mobilidade Urbana.
Ao longo de mais de 33 anos de vida pública, exerci com dedicação os mandatos de vereador, prefeito, deputado estadual, deputado federal e, nos últimos dois anos e meio, com a confiança do GOVERNADOR ELEITO Cláudio Castro, assumi o desafio de comandar a Secretaria de Transporte.
Nesse período, entregamos conquistas históricas para a população fluminense: a retomada das obras da Estação Gávea do Metrô, a modernização dos bondes de Santa Teresa, a saída do Estado da SuperVia, a licitação de mais de 1.100 linhas intermunicipais de ônibus, a redução da tarifa das barcas, entre tantas outras ações que impactaram diretamente a mobilidade e a qualidade de vida dos cidadãos.
É cedo para tratar de eleições, mas não posso deixar de afirmar que minha exoneração se deu unicamente pelo fato de eu não declarar apoio a quem não tem preparo ou capacidade para governar o Estado do Rio de Janeiro. Sigo de cabeça erguida, com a consciência tranquila e o orgulho de quem sempre trabalhou com seriedade e compromisso. Continuarei nas ruas, ao lado do povo, fazendo aquilo que sempre me guiou: servir com responsabilidade, lealdade e trabalho”.
A batalha de Caxias
Mas, no fim de semana passado, o caldo entornou de vez.
Na última sexta-feira, o presidente da Assembleia Legislativa foi recebido com pompa e circunstância pela oposição em Duque de Caxias, o reino da família Reis. Posou com o ex-prefeito José Camilo Zito (Cidadania), o maior concorrente do prefeito Netinho Reis (MDB) nas eleições de outubro do ano passado.
No domingo, foi a vez de Paes dar o troco. Postou um vídeo nas redes sociais ao lado dos irmãos Washington e Rosenverg Reis, em visita ao projeto Fazenda Paraíso, voltado para a recuperação de dependentes químicos. Classificou o ex-prefeito de Duque de Caxias como “o professor dos prefeitos” e chamou a iniciativa de “exemplo”. O vídeo irritou profundamente os aliados de Bacellar.
Convocação para CPI
Na segunda-feira, em sessão extraordinária da Assembleia Legislativa, Bacellar levou à votação em plenário o pedido de convocação de Washington Reis para depor na CPI da Transparência, a mais bélica da casa. Com um único voto em contrário — do irmão de Washington, o deputado Rosenverg Reis (MDB) — a convocação foi aprovada.
Depois da votação, houve uma forte discussão entre Bacellar e Rosenverg. O deputado provocou o presidente, dizendo que ele acha “que manda no estado”.
“Não me confunda com Cláudio Castro”, disparou, em referência ao governador. Disse que não admitiria ataques pessoais e que Rosenverg poderia “destruir o próprio irmão da forma que achasse melhor”.