Na semana passada, a turma do chope semanal estava muito atenta ouvindo as explicações do decano da turma, que tentava justificar o não cumprimento das recomendações do seu médico para que ele fizesse regularmente atividades físicas.
“Vejam vocês, de uns tempos para cá, basta alguém pôr um pé no consultório de qualquer médico, de qualquer um, que logo ouvirá a recomendação para perder peso e fazer atividades físicas”, dizia ele. E prosseguiu: “Parece que a tal atividade física é a deusa da cura, a Panaceia. A imortalidade passa pela magreza e pela atividade física. Na verdade, eu até creio que ambas são benéficas e se complementam, mas acho que há um exagero e um modismo que atende ao lobby das academias, que se proliferam como coelhos. E o dinheiro para isso? Tudo muito caro. Tênis, roupas apropriadas, personal trainer, estacionamento, mensalidades etc. E ainda temos que aguentar aqueles carinhas que ficam se exibindo fazendo poses na frente de paredes espelhadas. E as moçoilas que menos se exercitam do que desfilam para mostrar os últimos modelos das caríssimas, e apertadíssimas, roupas lançadas pelas multinacionais especializadas em esportes? Comigo não, violão. Ainda prefiro tomar remédios inibidores de apetites do que ter que enfrentar os ambientes exibicionistas das academias. Entenderam agora por que não faço a tal atividade física? Entenderam? Não vou me iludir procurando saúde onde apenas vou gastar meu rico dinheirinho alimentando as poderosas multinacionais da indústria esportiva. Comigo não”, concluiu batendo com o dedo indicador na mesa.
Aquele gesto de afirmação pareceu ter despertado o Caladinho, que deixou de fazer jus ao apelido e, surpreendentemente, contrariando a sua habitual postura de conciliador, de modo quase agressivo, tomou a palavra.
“Meu amigo, me perdoe, mas pode parar com essa conversa mole. Isso que você está fazendo é na verdade uma auto enganação, para justificar a sua falta de força de vontade. Emagrecer é como estudar, economizar etc. É uma questão de priorizar, de realmente querer. Essa coisa de tomar remédio me faz lembrar uma frase que vi em algum lugar: ‘tem gente que não quer emagrecer, quer ser emagrecida’. Tudo o que você falou sobre academias e ginástica é verdade, mas não justifica em nada você não se exercitar por isso. Nós somos de uma época em que não existiam academias, mas já tínhamos atletas olímpicos. João do Pulo, Adhemar Ferreira da Silva ou Aida dos Santos nunca sonharam com academias. Mas tinham praias, parques, quintais e treinavam nesses locais. Todavia, o mundo gira e a modernidade vem para ficar, queiramos ou não. As academias, que você abomina já fazem parte do nosso cotidiano. Elas são uma invenção mercadologicamente perfeita, promovida por fabricantes internacionais de equipamentos, de roupas, de calçados, suplementos alimentares, para venderem seus produtos em ambientes fechados, provavelmente cheios de ácaros. A coisa foi tão bem-feita que até a linguagem foi atingida. Na nossa juventude, dizíamos fazer exercício, depois mudou para fazer ginástica, que foi substituída por malhar; hoje se diz treinar. É, meu amigo, as academias podem ser dispensáveis, mas não servem como desculpa esfarrapada para sua preguiça. Você quer mesmo fazer atividade física sem academia? Vá para alguma praia ou praça arborizada, qualquer lugar longe da poluição dos carros, e comece a caminhar, depois correr e agachar, respirando profundamente o ar puro gratuito da natureza. Esqueça as vestimentas de marca e, como recomendavam antigamente, use roupas velhas e folgadas e se solte aos poucos. Com o dinheiro economizado dos redutores de apetite que você não comprará, contrate um professor de educação física. Eita, ato falho, termo antigo. Corrijo: contrate um personal trainer para orientá-lo a se viciar em endorfina e deixe de ficar se lamuriando durante o nosso relaxante chope semanal. O mundo evolui, e não somos obrigados a aceitar tudo o que é moderno, mas temos que enfrentar a verdade de frente. Não quer fazer atividade física? Está no seu direito, mas não venha mais com esses choramingos. Ninguém aqui aguenta mais esses seus argumentos fajutos. Desculpa de amarelo é comer barro, diziam na minha infância. Voltemos ao chope!”.
Muito boa essa sua roda de amigos, sempre temas atuais e enriquecedores. Adorei ler os dois lados da importância dos exercícios físicos.
Mas pode ser uma Personal né?
Gostei das conversas. Tudo em nome da famosa longevidade . A disciplina faz parte e faz bem . Desculpas esfarrapadas pra não fazer o sacrifício de “ ter disciplina “ sempre existirão . Que pena ! Bom usufruir das boas e saudáveis conhecidas modernidades . Eu mesma , com todas as dificuldades respiratórias , estou feliz com o meu andador fantástico , que tem banquinho pra sentar e bolsinha pra comprar o que vejo e posso . Em frente !