Certamente, a onda já vem de algum tempo, mas, para mim, surgiu repentinamente há poucos dias. Ou, como dizem os jovens, apareceu do nada. Pelo título do texto, vocês já devem ter percebido que estou falando do modismo atual dos bebês reborn, ou seja, dos bonecos de plástico que de tão perfeitos podem ser confundidos com bebês humanos. Criadas para ajudar psicologicamente mulheres em casos de luto, solidão e ansiedade, ou até em pacientes com demência ou Alzheimer, essas bonecas são produzidas artesanalmente, com técnicas que garantem um realismo impressionante. Em homenagem às artesãs que criam essas bonecas hiper-realistas chamadas de bebês reborn, a Câmara Municipal do Rio de Janeiro até já aprovou O Dia da Cegonha Reborn, ora aguardando sanção do prefeito.
Até aí tudo bem, mas a utilização das bonecas reborn está sendo totalmente desvirtuada. Por elas serem tão realistas, já há casos em que os bebês de verdade estão sendo substituídos por reborns, criando um problema psíquico-comportamental não previsto.
Os reborns já podem ser vistos nos braços de suas genitoras humanas em vários os lugares. Outro dia, avistaram uma mãe, ainda jovem, sentada em um banco de um shopping center, superconcentrada, amamentado a sua cria de borracha. Também foi registrada outra mulher, na fila do ônibus, com o seu bebê reborn enganchado em um suporte-canguru, pendurado no seu tórax. Não bastasse, um amigo jura que ouviu, na padaria, uma idosa dizendo estar comprando leite em pó para a sua netinha reborn.
Isso é demais pra mim. Parece coisa de doido, e, na minha opinião é coisa de doido, ou de doida mesmo!
Como pensar é a maior atividade de um aposentado, estive matutando sobre onde essa febre vai parar. Será um modismo passageiro, como foi a onda do Pokémon Go, ou a população mundial será afetada pela redução da natalidade? As maternidades serão substituídas por fábricas de bonecos? Não podemos ignorar que, segundo o IBGE, em 2023 o Brasil teve o menor número de nascimentos desde 1976. Estariam os governos, subliminarmente, induzindo esse novo costume visando a diminuir o número de bocas a serem alimentadas e resolver o problema mundial da fome?
Não, não pode ser isso. Eu não quero que seja nada disso. Eu não posso aceitar que seja isso. Melhor acreditar em loucura passageira e brevemente curada. Mas, e se não for? Considerando verdadeira a célebre frase dita por Hamlet, rei da Dinamarca, ao seu amigo Horácio: “no are more things in heaven and earth, Horatio, than are dreamt of in your philosophy”, podemos estar diante de um fenômeno normal, natural e que simplesmente a minha mente ainda pré-cambriana não tem a abrangência necessária para entender, e aceitar.
Hoje, o assunto pousou na chopada do meu grupo de anciões cervejeiros. Um dos presentes argumentou que é bom irmos nos acostumando porque, se vivermos bastante, ainda veremos, corriqueiramente, algumas gestantes promovendo chás de fraldas de reborns, muitos casais recém-separados brigando na justiça pela guarda dos seus bonecos, a proliferação de creches de reborns e, nas escolas, teremos mães beligerantes se descabelando por conta de brigas de seus reborns nos recreios. Um outro colega acrescentou: “não esqueçam que o Congresso será obrigado a modificar o Estatuto da Criança e do Adolescente para incluir os reborns, que terão direitos próprios a serem regulamentados. E não desdenhem da possibilidade de pedófilos inflacionarem o mercado desses bonecos. Será que ainda veremos a criação da Associação de Pais e Amigos dos Reborns (Apar)?”.
Naquela altura, antes que alguém viesse defender essa sandice argumentando que a novidade seria geradora de empregos, tais como babás ou pediatras de reborns, eu perdi o controle e falei que “eles ou estavam brincando ou estavam bêbados, porque não era possível que pessoas lúcidas e inteligentes estivessem embarcando nessa loucura. Sim, porque esse negócio de bonecos substituírem crianças é uma rematada doidice coletiva. Elevei o tom e disse que só estava faltando eles dizerem que brevemente teremos orfanatos para esses bonecos metidos a gente e clínicas infantis para esses usurpadores do amor maternal. Com tantas crianças órfãs nos asilos, afirmei achar uma ignomínia as mulheres ou casais ficarem adotando esses mamulengos de plástico”. Foi nesse instante que o Caladinho, como sempre oportuno nas suas poucas falas, pigarreou e alteando a voz, aconselhou: — Amigo, eu acho melhor você maneirar nessas suas observações, porque do jeito que você está adjetivando a rebornomania, com uma intolerância explicita, logo se verá diante de algum tribunal respondendo criminalmente por preconceito. Tenha certeza de que mais dia, menos dia, o Código Penal tipificará essa sua rebornofobia como crime, e sem direito a fiança.
Preferi me calar e mudar de assunto porque o Caladinho quase nunca erra e sempre tem razão. Mas, cá com meus botões, intimamente, continuo achando essa rebornomania uma autêntica palhaçada, ou “chose de loc” como diria Sebastian, inesquecível personagem criado pelo genial Jô Soares.
Rio, 2025
Loucura mesmo…nunca ouvi falar disso, na França, na Provence….será que nós já temos demais de bebezinho de verdade….
Cuidado com o Moraes!
Como se faria um teste de DNA de um reborn??
Olá, Alfeu. Tem gente ficando de miolo mole. Breve irão declarar esses tais bebês como dependentes nas declarações do Imposto de Renda. Abrirão um precedente para os que são casados com bonecas/bonecos infláveis fazerem o mesmo. Haja fralda limpa!