O caso envolvendo a prisão de Rodrigo Bacellar (União) tem mais um ponto de atenção — para além das trocas de mensagens do presidente da Assembleia Legislativa com o ex-deputado TH Joias. E está no coração da máquina pública do Rio. A decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes determina algo raríssimo: uma devassa técnica no Sistema Eletrônico de Informações do Estado do Rio de Janeiro (SEI/RJ) e do fluxo de publicação do Diário Oficial.
Mesmo sem fazer juízo prévio, Moraes quer saber quem mexeu, quando mexeu e por que mexeu nos processos que resultaram na exoneração-relâmpago de Rafael Picciani e na nomeação de Rodrigo Scorzelli no comando da Secretaria estadual de Esportes — justamente no dia da operação que prendeu TH Joias.
A Polícia Federal chama o episódio de “manobra regimental célere”.
A suspeita é clara: o movimento teria sido uma tentativa de blindar a Alerj de Bacellar e o executivo do desgaste político causado pelo escândalo envolvendo o deputado suplente do MDB.
Na decisão sobre Bacellar, Moraes requer as provas digitais da movimentação de Picciani
O ministro, então, quer mais do que versões. Na determinação da prisão de Bacellar, há o requerimento de provas digitais. Por ordem direta de Moraes, o Proderj e Secretaria de Planejamento e Gestão deverão entregar os “logs” completos de acesso; o horário exato de cada inclusão, alteração e assinatura; e o usuário responsável por cada ato.
Tudo referente aos dois processos do SEI/RJ que tratam da dança das cadeiras na Secretaria de Esportes.
E não para aí.
A Imprensa Oficial também foi acionada: deverá fornecer o fluxo de recebimento e publicação do decreto que exonerou Picciani e nomeou Scorzelli na edição extraordinária de 3 de setembro. Ou seja, o STF quer saber a trajetória completa do documento: quem enviou, quando enviou, quem publicou e em que minuto isso aconteceu. Literalmente, o ministro pediu a trilha digital da movimentação.
No jargão policial, isso significa o seguinte: o ministro está investigando se houve manipulação interna no próprio sistema do governo para viabilizar a troca de comando no momento mais sensível da operação. Uma investigação rara, técnica, e que pela primeira vez mira não só os personagens, mas o computador que registrou cada clique.
Afinal, como se sabe, os dados não mentem.

