No fim da manhã do dia 26 de julho de 2013, no Palácio Episcopal São Joaquim, na Glória, Zona Sul do Rio, um gesto se transformou em história. Em sua primeira viagem internacional ao Brasil, o papa Francisco, que teve a morte confirmada nesta segunda-feira (21), emocionou o mundo ao gritar da sacada do palácio: “Violência, não! Só amor! Candelária nunca mais!”
O momento ocorreu durante um encontro privado com oito jovens detentos, todos menores de idade — coincidentemente o mesmo número de adolescentes assassinados na chacina da Candelária, ocorrida 20 anos antes, em 23 de julho de 1993, quando policiais militares executaram brutalmente meninos em situação de rua no Centro do Rio.
A história está descrita no livro “Massacre em Vigário Geral”, dos jornalistas Elenilce Bottari, Elba Boechat e Chico Otávio. A obra retrata como a política influencia diretamente a apuração e a responsabilização por crimes de Estado no Rio.

A visita só aconteceu graças à intervenção do desembargador José Muiños Piñeiro Filho, que levou ao conhecimento de Francisco os detalhes da chacina e da impunidade que ainda cercava o caso. Além dos jovens, também estavam na sala o arcebispo do Rio, dom Orani Tempesta, um cardeal emérito, um juiz, um padre da Pastoral Carcerária e um leigo.
Os adolescentes sentaram-se em círculo ao redor do papa. Durante o encontro, Francisco rezou o Pai-Nosso com os jovens e dedicou suas preces a todos os adolescentes vítimas da violência. O gesto reforçou uma prática que ele já cultivava desde os tempos em que era arcebispo de Buenos Aires, quando visitava regularmente detentos.
A emoção tomou conta do momento quando os jovens presentearam o papa com um rosário especial, onde estavam gravados os nomes das vítimas da chacina da Candelária. Na cruz, uma inscrição marcante: “Candelária, nunca mais!”. O encontro teve início às 11h e durou cerca de meia hora.