Tem treta no reino da advocacia. O seccional Rio da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-RJ) criou um elevador dedicado aos “diretores e conselheiros” no edifício-sede da Rua Marechal Câmara. Ao lado e em outra cabine, como deixam claro as placas, viajam os “funcionários”.
“A separação é estética, mas a mensagem é social: alguns sobem pela honra do cargo, outros pela invisibilidade do trabalho”, postou o advogado Hugo Pontes, 160 mil seguidores só numa rede social. “Essa prática, além de vergonhosa, viola frontalmente a lei municipal nº 7.957/2023, que proíbe a diferenciação entre elevadores no Rio de Janeiro. A norma foi criada justamente para coibir a perpetuação de desigualdades naturalizadas nos espaços públicos e privados”, completou.
A Ordem afirma que existem outros três elevadores na sede e que a ideia foi garantir agilidade aos deslocamentos.
“A OAB-RJ esclarece que a sede da seccional conta com quatro elevadores, sendo dois deles na entrada principal, que são utilizados por todos que frequentam o prédio. Um dos dois elevadores dos fundos foi priorizado para funcionários, para evitar que eles enfrentem filas no exercício das suas atividades, que são diárias pelo grande numero de eventos. Outro dos fundos foi destinado a conselheiros, membros do TED (Tribunal de Ética e Disciplina) e diretores para dar maior agilidade ao comparecimento a seus compromissos, tais como sessões de julgamento, que não devem atrasar”, garante a nota da entidade.
Mais de 3,5 mil pessoas curtiram a postagem com críticas à OAB-RJ
Até a publicação deste texto, a postagem de Pontes já tinha 3,5 mil curtidas, mais de 270 compartilhamentos e de 80 comentários.
“O apartheid elevadoral da OAB flerta com a lógica de castas e resgata a simbologia repugnante das leis de Jim Crow, onde não se tratava de logística, mas de hierarquia, e de quem deveria ou não ser visto. Quem deveria ou não ter contato social. A elite jurídica que deveria lutar pela igualdade escolhe, mais uma vez, o conforto da distinção”, completou o advogado.
E, a julgar pelos comentários, muita gente concorda.
“Como advogada regularmente inscrita na OAB-RJ me sinto envergonhada”, comentou Valéria Pinheiro na postagem.
“No apartheid era tipo isso mesmo. Só falta separar banheiro, postos de trabalho, etc”, disse Gustavo Felipe.