Com a fachada pichada e deteriorada, o casarão localizado no número 190 da rua Sorocaba, em Botafogo, que já abrigou o Tempo Glauber — espaço para a preservação da memória de Glauber Rocha e do Cinema Nacional — enfrenta uma situação de abandono e constantes invasões. O imóvel, que pertence ao INSS, está fechado há mais de sete anos.
Denúncias feitas pelos moradores da região relatam que a invasão ao imóvel aconteceu ainda no mês de janeiro de 2025. Funcionários do Museu Villa-Lobos, que fica ao lado, flagraram a ação dos suspeitos, que teriam deixado o local antes deles acionarem a polícia. Câmeras de segurança de prédios vizinhos também registraram a movimentação.
No entanto, o casarão da Rua Sorocaba não é o único imóvel histórico vulnerável na região. Regina Chiaradia, presidente da Associação de Moradores de Botafogo, relata outro caso recente, que gera preocupação nos moradores: o casarão da Rua Visconde de Silva, número 38.
‘O novo normal’ em Botafogo
Alex Nogueira, síndico de um prédio também localizado na mesma rua, diz que o casarão abandonado da Rua Visconde de Silva vem sofrendo constantes invasões desde o segundo semestre de 2024. Segundo ele, características como muro baixo e portão frágil, são facilitadores ao acesso dos grupos. Em sua grande maioria, composto por pessoas em situação de rua e usuários de drogas.
As pessoas aproveitam também para cometer furtos de estruturas metálicas do local, utilizando-as para venda. O síndico diz que a situação já foi relatada às autoridades competentes. No entanto, ressalta que não obteve resposta.
“A gente meio que normalizou a situação. Porque eu fui a todos os órgãos possíveis buscar uma tentativa de solução. Foi aí que cheguei até a Associação de Moradores. A gente fez alguns denúncias à polícia, abrimos protocolos, chamados e tudo mais”, diz Alex Nogueira.
Violência em Botafogo
A maior preocupação dos moradores da região, está, além da depredação de patrimônios históricos, na crescente de violência no bairro. O síndico relata que, mesmo que ainda não tenham acontecido incidentes nos imóveis vizinhos aos prédios abandonados — dado, sobretudo, à diferença de altura entre os muros — a situação gera insegurança, devido a imprevisibilidade dos usuários.
“Não há relato de violência efetiva ainda, mas existe um receio, um medo muito grande de que isso venha a acontecer, que eles possam invadir o condomínio e usar de violência, ou mesmo cometer furtos”, acrescenta Alex Nogueira.
Em nota, o INSS disse que o imóvel situado na Rua Sorocaba 190 é de propriedade do Fundo do Regime Geral da Previdência Social e é qualificado atualmente como não operacional, ou seja, não há pretensão atual de utilização.
“A classificação do imóvel como não operacional o qualifica para o processo de transferência de gestão para a Secretaria do Patrimônio da União. […] Atualmente, o procedimento de transferência dos imóveis qualificados pelo dispositivo legal (art. 22) está em andamento. […] Enquanto não realizada a transferência de gestão, o INSS mantém a sua gestão, motivo pelo qual mantém a conversação e a guarda do imóvel, inclusive com a manutenção”, diz trechos do comunicado.
Procurada pelo TEMPO REAL, a PM informou que o 2ºBPM (Botafogo) tem empreendido esforços para prevenir e coibir quaisquer práticas criminosas, incluindo os roubos e furtos a patrimônio público e privado.
“A unidade está aumentando as abordagens com foco em pessoas em atitudes suspeitas, inclusive em situação de vulnerabilidade, apreendendo diversos objetos perfurocortantes frequentemente. A unidade também trabalha em conjunto com a delegacia da área para identificar e prender os envolvidos em tais ações criminosas”.