Celebramos, nesta sexta-feira (31), o Dia Mundial sem Tabaco. Mas o tabagismo segue sendo o principal fator de risco para o câncer de pulmão: cerca de 80% dos pacientes são fumantes ou já fizeram uso de cigarro. Apesar de a incidência do vício ter diminuído no país — segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) haverá redução relativa de 25% no consumo de tabaco até 2025 — a uso dos cigarros eletrônicos vem preocupando especialistas.
Mesmo a venda do produto sendo proibida no Brasil, essa é uma prática que avança entre os mais jovens, dobrando as chances de crianças e adolescentes fumarem na fase adulta. Atenta a esse cenário, a OMS escolheu o tema “Proteção das crianças contra a interferência da indústria do tabaco” para 2024.
Reforçar a campanha contra o tabagismo é uma medida urgente, principalmente no Estado do Rio, onde o número estimado de casos novos de câncer de traqueia, brônquios e pulmão, para cada ano do triênio 2023-2025, é de três mil novos pacientes, sendo 1.550 entre os homens e 1.450 entre as mulheres.
“A indústria do cigarro está se reinserindo com a versão eletrônica, com um apelo maior entre a população que não viveu essa crise tabagista. Além disso, há um apelo tecnológico. E só mais para a frente é que vamos saber o impacto desse comportamento sobre a incidência de câncer e outras doenças agudas. Isso vai depender da exposição ao produto e do tempo de uso”, avalia a oncologista toráxica da Oncoclínicas no Rio, Tatiane Montella.
Segundo a literatura médica, pacientes com alto risco para câncer de pulmão — e isso inclui fumantes e ex-fumantes — devem fazer exames anualmente para rastreamento precoce de tumores. A maior incidência costuma ser em pacientes acima dos 70 anos, e 80% dos casos têm relação com o tabagismo.
Nos últimos anos, o crescimento do número de exames de imagem em decorrência da pandemia de Covid-19 refletiu em um aumento de diagnósticos, principalmente aqueles que estão em estágios mais iniciais da doença. Tatiane ressalta que cerca de 90% dos nódulos achados no pulmão não têm relação com câncer, mas todos precisam ser investigados.
“Essa é uma doença muito heterogênea. Entendemos que cada doença tem a sua propriedade molecular, e isso leva a um tratamento individualizado, que pode ser feito com drogas direcionadas ou imunoterapia, por exemplo”, explica a médica.
A especialista ressalta ainda que não fumar e ter hábitos saudáveis continuam sendo as principais recomendações para quem quer prevenir o câncer de pulmão:
“A população de risco, que já se expôs, fumou mais de 15, 20 anos, tem que rastrear regularmente. Essa é uma doença muito marcada pelo tempo no diagnóstico, mas com até 80% de chance de cura”.
Cigarro eletrônico
Conforme a última Pesquisa Nacional de Saúde Escolar (PeNSE), de 2019, 16,8% dos alunos de 13 a 17 anos já tinham experimentado o cigarro eletrônico, sendo 13,6% nos de 13 a 15 anos e 22,7% nos de 16 e 17 anos. Quanto ao sexo, a experimentação é maior entre os homens (18,1%) do que entre as mulheres (14,6%).
Houve ainda aumento dos estudantes de 13 a 17 anos que declararam o consumo de cigarros nos 30 dias anteriores à data da pesquisa, subindo o percentual de 5,6%, em 2013, para 6,8%, em 2019. Os dados estão disponíveis no portal do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Sintomas e sinais
Embora possam surgir no começo do desenvolvimento da doença, os sintomas do câncer de pulmão geralmente não ocorrem até que se atinja um estágio avançado. Eles não são específicos da doença, e os mais comuns são:
Tosse persistente;
Escarro com sangue;
Dor no peito;
Dor óssea;
Cefaleia (dor de cabeça);
Rouquidão;
Falta de ar ou exacerbação da mesma;
Perda de peso e de apetite;
Pneumonia recorrente ou bronquite;
Efusão pleural (acúmulo anormal de líquido na pleura);
Sentir-se cansado ou fraco;
Alteração do ritmo habitual da tosse em fumantes, em que as crises acontecem em horários incomuns.
Prevenção
Algumas atitudes podem ajudar a reduzir o risco de desenvolvimento do câncer de pulmão, como:
Não começar a fumar;
Se já for fumante, parar o quanto antes;
Evitar a inalação da fumaça, pois isso torna a pessoa fumante passiva;
Evitar a exposição a agentes químicos (arsênico, asbesto, berílio, cromo, radônio, urânio, níquel, cádmio, cloreto de vinila e éter de clorometil), presentes em determinados ambientes de trabalho. Certificar-se sempre de utilizar equipamentos de proteção individual (EPIs) adequados.