Vereadores de oposição afirmam que o uso frequente de créditos suplementares por Eduardo Paes (PSD) tornam o orçamento anual da Prefeitura do Rio uma “peça de ficção”. Parlamentares brincam ao dizerem que a situação virou uma espécie de “tira daqui e põe ali”.
Segundo levantamento feito pelo vereador Pedro Duarte (Novo), fora educação, saúde e outros órgãos de mais peso, a prática vem sendo também usada para inflar pastas ocupadas por aliados políticos de Paes ou em órgãos públicos sem explicação clara.
De acordo com a pesquisa feita pelo gabinete do parlamentar, chamou atenção a lista de algumas secretarias beneficiadas no orçamento deste ano até aqui: a Casa Civil, a Secretaria de Esportes, a Secretaria Especial de Cidadania e Família.
Na Casa Civil, gerida por Leandro Matieli, ex-diretor da Casa Militar e ex-chefe de gabinete de Paes, o orçamento subiu de R$ 234 milhões para R$ 405 milhões — um acréscimo de R$ 153 milhões em apenas seis meses. Em 2024, o padrão já havia se apresentado: o valor aprovado foi de R$ 145 milhões e terminou o ano em R$ 397 milhões.
A Secretaria de Esportes, do deputado estadual licenciado Guilherme Schleder (PSD) — aliado de primeira hora de Paes —, seguiu o mesmo caminho. Em 2025, o orçamento saltou de R$ 138 milhões para R$ 218 milhões. No ano anterior, já havia ocorrido aumento expressivo: de R$ 211 milhões para R$ 261 milhões. Os novos recursos foram concentrados em ações genéricas como o “Rio em Forma”.
Secretaria nova nasce quase sem orçamento, mas é turbinada em seguida
A Secretaria especial de Cidadania e Família, tocada por Otoni de Paula Filho — filho do deputado federal Otoni de Paula (MDB-RJ) —começou com R$ 2,3 milhões em caixa, mas a previsão pulou para R$ 62,3 milhões.
Situação semelhante à da Secretaria Especial de Economia Solidária, comandada pelo vereador Marcio Santos (PV), que saiu de R$ 4,2 milhões para R$ 25,3 milhões neste ano — após ter sofrido redução em 2024, quando caiu de R$ 16 milhões para R$ 5 milhões.
Paes dá, mas também tira
Já as áreas que perderam recursos orçamentários com as movimentações deste ano foram duas com atribuições no campo do urbanismo.
A Secretaria municipal de Habitação, comandada por Diego Zeidan (PT), filho do prefeito de Maricá, Washington Quaquá (PT) sofreu um corte de R$ 104 milhões, passando de R$ 346 milhões previstos na LOA para R$ 242 milhões no orçamento atualizado — com forte impacto na ação de urbanização e regularização fundiária, que caiu de R$ 255 milhões para R$ 141 milhões.
Também perdeu orçamento a Secretaria municipal de Conservação, comandada pelo ex-subprefeito da Zona Norte e vereador licenciado Diego Vaz (PSD), que teve uma redução de R$ 106 milhões, indo de R$ 541 milhões para R$ 435 milhões. A pasta viu o programa Asfalto Liso ser completamente zerado, após ter contado com R$ 224 milhões em 2024.
Para Duarte, os dados comprovam que a prefeitura trata o orçamento como peça de ficção.
“Vimos de novo a LOA ser ignorada: áreas com orçamento simbólico acabam recebendo milhões ao longo do ano, enquanto o planejamento discutido com a sociedade é descartado. Pelo menos o programa Asfalto Liso, que teve R$ 242 milhões aprovados para 2025, foi zerado. Um respiro após os R$ 459 milhões de orçamento no ano eleitoral de 2024. Mas fica a dúvida: será que com a chegada das eleições de 2026, esse valor continuará assim?”, disse.