O aumento no preço dos alimentos tem pesado no bolso do carioca. Com a cesta básica mais cara do Brasil, ultrapassando R$ 1 mil, a população tem buscado alternativas para equilibrar as contas e continuar comprando o essencial. Os dados são de um levantamento realizado pela FGV Ibre e pela Neogrid.
Nesta quinta-feira (30), o TEMPO REAL foi até a Tijuca, na Zona Norte da cidade, para entender como os moradores estão lidando com a situação. Não demorou muito para ouvirmos as primeiras reclamações.
“Tudo aumentou. Não tem mais nada barato. Em todos os mercados, tudo está caro”, afirma Lia Barbosa, de 84 anos, aposentada, que já sente a dificuldade de lidar com os preços elevados em sacolões e supermercados.
Alimentos mais caros nos mercados
O preço médio dos itens essenciais alcançou R$ 1.033,34, colocando a cidade no topo do ranking nacional. O levantamento aponta que alguns dos itens responsáveis pela alta são o óleo de soja e a margarina.
Em três supermercados famosos da cidade, o TEMPO REAL observou preços elevados. Cinco produtos comuns na mesa do carioca apresentavam os seguintes preços médios: arroz por R$ 26,48, feijão a R$ 7,99, óleo a R$ 7 e café a R$ 27,50.
Preço do café preocupa os cariocas
Carmen Lucia, de 54 anos, empregada doméstica, também sofre com a inflação.
“Tá difícil. As coisas subiram muito. Leite, café, açúcar… Está complicado. Não tem nada barato. Vou ter que avaliar o que cabe no bolso. O café está um absurdo. A gente, que é assalariado, deixou de consumir muitas coisas. Carne, então, é só uma vez por semana, e olhe lá. Está muito caro”, lamenta.
A previsão para o café é ainda mais preocupante: a combinação de demanda crescente e clima instável pode fazer o preço do quilo chegar a R$ 60 nos próximos meses. O café tradicional, um dos itens mais consumidos no Brasil, fechou 2024 com um aumento de 39%, alcançando R$ 48,90. As informações são do jornal Exame.
Salários não acompanham os preços
Para André Luiz Silva, de 37 anos, a situação tem gerado indignação, pois, segundo ele, os salários não acompanham os aumentos de preços.
“Está tudo muito caro. Eu percebo isso a cada ano que passa, o aumento geral. Quando olho os preços, vejo que estão muito altos. Carne e peixe tenho consumido bem menos. Fico indignado, principalmente porque não estou trabalhando. Os preços aumentam, mas o salário mínimo não acompanha. Está péssimo”, enfatiza.
Especialistas explicam o aumento nos preços
O economista Roberto Troster aponta a alta do dólar nos últimos meses, que atualmente está em R$ 5,84, como uma das principais causas do aumento nos preços.
“Um dos fatores é a taxa de câmbio. Quando o dólar sobe, muitos alimentos, ou produtos comercializáveis, são influenciados por essa variação. Por exemplo, se o preço da carne é de 1 dólar, e o câmbio está a R$ 5, o preço da carne no mercado interno será de R$ 5. Quando o dólar sobe para R$ 6, o produtor percebe que, ao vender para o exterior, ele pode receber R$ 6. Com isso, ele prefere vender a carne para o mercado externo ou aumentar o preço no mercado interno”, explica.
As previsões para os próximos meses não são otimistas. Gilberto Braga, economista do IBMEC, prevê que a inflação dos alimentos continuará elevada, sem sinais de queda no curto prazo.
“Apesar da expectativa de uma das maiores safras agrícolas do Brasil, a inflação dos alimentos deve permanecer alta. Fenômenos climáticos extremos, tanto no Brasil quanto no exterior, podem frustrar essas previsões. Além disso, a valorização do dólar e a alta demanda externa tornam a oferta interna mais escassa. Como resultado, a inflação dos alimentos deverá permanecer acima de 5% em 2025, bem acima do teto da meta de 4,5%”, explica.