A Divisão de Capturas da Polícia Civil (Polinter) deflagrou, na manhã desta quinta-feira (09) uma operação para prender quatro envolvidos no esquema que deu um golpe estimado em R$ 725 milhões em Geneviève Boghici, viúva de Jean Boghici, morto em 2015 e considerado um dos mais importantes marchands de arte — mediadores entre artistas e colecionadores — no país.
Os mandados foram expedidos contra Diana Rosa Stanesco Vuletic, Jaqueline Stanesco, Gabriel Nicolau Hafliger e Slavko Vuletic. Três pessoas foram presas e uma está foragida. Segundo a Polícia Civil, o plano foi elaborado por Sabine Boghici, filha de Geneviève, que o colocou em prática no começo de 2020.
Jaqueline e Gabriel Nicolau foram presos em casa. Slavko já cumpre prisão em regime semiaberto e foi notificado. Diana é considerada foragida. A esposa de Sabine, Rosa Stanesco Nicolau, recebeu a pena mais alta: de 45 anos 9 meses. Ela é conhecida também como “Mãe Valéria de Oxóssi”.
Gabriel Nicolau Hafliger, filho de Rosa, recebeu pena de mais de 13 anos; Diana Rosa Stanesco Vuletic, meia-irmã de Rosa, de 7 anos e 4 meses de prisão. A mesma pena foi aplicada a Jacqueline Stanescos, prima de Rosa e Diana, e Slavko Vuletic, pai de Diana e padrasto da Rosa, condenado a 5 anos e 8 meses. A Justiça condenou a quadrilha por estelionato, extorsão, roubo e associação criminosa.
Passo a passo do golpe
O primeiro passo foi Sabine contratar uma mulher para alertar a mãe sobre uma morte iminente na família e levá-la até uma cartomante e uma mãe de santo, também comparsas. As duas farsantes confirmaram a “morte” da filha e aconselharam Geneviève a pagar por “um trabalho” para salvar Sabine.
A mãe contou tudo à filha, que fingiu apavoro e implorou para a idosa contratar o “trabalho”. Ela obedeceu, e, em um intervalo de 15 dias, fez diversos pagamentos que totalizaram R$ 5 milhões. Após o início do “tratamento espiritual”, Sabine colocou em prática um plano de isolamento de Geneviève, dispensando funcionários e outros prestadores de serviço. A mãe passou a perceber a relação da própria filha com as supostas videntes e parou de fazer os repasses, e então parou de realizar os pagamentos. Sabine começou a agredir e ameçar a mãe, que, nesse ponto, percebeu todo o plano da filha.
Além do pagamento pelo “trabalho”, Geneviève foi vítima de extorsões sob ameaças, que somam R$ 4 milhões, o roubo de 16 quadros, avaliados em R$ 709 milhões; e o roubo de jóias, avaliadas em R$ 6 milhões. Um dos quadros roubados foi “Sol Poente”, de Tarsila do Amaral. A obra batizou o nome da Operação que prendeu Sabine e outras três pessoas em agosto de 2022. Posteriormente, ela ganhou liberdade provisória.
Sabine morreu em 14 de setembro de 2023 após cair do quinto andar de um prédio na Lagoa, na Zona Sul do Rio.