Todos os anos, o desfile do Boi Tolo, que carrega multidões por até dez horas interruptas pela cidade do Rio, encontra na travessia do túnel em Copacabana, o seu ápice. O bloco considerado um dos mais tradicionais entre os “proibidões”, é essencialmente subversivo. Não só pela opção em ficar de fora das chamadas “burocracias” da Riotur, organizadora do carnaval de rua do Rio, mas também por insistir na travessia do túnel.
E a prática de atravessar túneis, a partir deste carnaval de 2025, está definitivamente vetada para os blocos “oficiais” do carnaval de rua do Rio. O Dois pra Lá, Dois pra Cá, era, até então, o único bloco de carnaval autorizado pela Riotur, que atravessava um túnel no Rio de Janeiro. No entanto, neste carnaval, o bloco anunciou que não desfilará pelas ruas da cidade, justamente, pela nova proibição da organização municipal em incluir o túnel de Copacabana no trajeto.
“Por determinação dos órgãos competentes, o desfile não foi autorizado, e, por isso, precisamos respeitar essa decisão. Sabemos que essa notícia é uma decepção para todos que aguardavam com ansiedade, mas reforçamos que nossa prioridade é sempre a segurança e o bem-estar de todos os foliões”, compartilhou Carlinhos de Jesus, um dos fundadores do bloco, através das redes sociais.
Em nota, a Riotur diz que os túneis da cidade não podem fazer parte do trajeto dos blocos. De acordo com a operação dos órgãos públicos que atuam no carnaval de rua, essa é uma prática considerada perigosa.
Burocracia esfria a folia?
Desde a pandemia, blocos tradicionais do carnaval carioca deixaram as ruas, do Escravos da Mauá ao Bloco de Segunda. E 2025 marca a despedida de mais dois nomes de peso: Imprensa que eu Gamo, criado há mais de 30 anos, assim como o Suvaco do Cristo, criado em 1985, anunciaram que vão sair de cena, com o primeiro parando ainda neste carnaval e o segundo em 2026.
O fim dos blocos tradicionais, além de indicar o início de uma nova era do carnaval de rua, também representa uma dificuldade de gestão. No centro do imbróglio, está a Riotur. E o ruído no relacionamento entre os organizadores dos blocos e a empresa pública.
Atualmente, para colocar o bloco na rua, é preciso conseguir autorizações de diferentes órgãos públicos, como Corpo de Bombeiros, Polícia Militar e CET-Rio. A crítica dos organizadores se dá ao número de documentos e a enorme lista de exigências, que, segundo os representantes, não são centralizadas.
Encontrando espaço em um não-espaço, os desfiles não oficiais tomam conta das ruas da cidade. E ganham força como resposta ao atual modelo de organização oficial.
Os blocos independentes surgem em diferentes pontos da cidade. Muitas das vezes sem divulgação de data, hora e lugar de saída, nem mesmo perfil nas redes sociais, os foliões se encontram no desencontro carnavalesco, atravessando e ocupando as ruas. E em 2025, aqueles que esperam para acompanhar o Boi Tolo, seguem preparados para a travessia do túnel.