O calor segue sem dar trégua no Rio de Janeiro. E muito além de um transtorno, as altas temperaturas também podem representar uma ameaça à saúde pública. Uma pesquisa da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (Ensp/Fiocruz), divulgada pela Agência Brasil, indica que o calor extremo está diretamente relacionado com o aumento da mortalidade na capital fluminense.
O risco é ainda maior para idosos, crianças e pessoas com diabetes, hipertensão, Alzheimer, insuficiência renal e infecções do trato urinário. Os números foram analisados separadamente conforme a classificação de Níveis de Calor (NC) do protocolo da Prefeitura do Rio, lançado no ano passado. Os NCs variam de 1 a 5 e indicam riscos e ações que devem ser tomadas em cada um deles.
O registro de Nível de Calor 4, quando a temperatura é maior que 40°C durante 4 horas ou mais, está relacionado com um aumento de 50% na mortalidade por doenças como hipertensão, diabetes e insuficiência renal entre idosos.
“Em Nível 5, de 2 horas com Índice de Calor igual ou acima de 44°C, esse mesmo aumento é observado e é agravado conforme o número de horas aumenta. Portanto, o estudo confirma que, nesses níveis extremos definidos no protocolo, o risco à saúde é real”, explica João Henrique de Araujo Morais, autor do estudo.
Os resultados do estudo alertam para as consequências da emergência climática e para a necessidade de que as cidades criem planos de adaptação ao calor.
“Populações específicas estão em alto risco, como trabalhadores diretamente postos ao sol, populações de rua, grupos mais vulneráveis (crianças, idosos, pessoas com doenças crônicas), e populações que vivem nas chamadas Ilhas de Calor Urbano”, diz João Henrique.
SAMU registra aumento ligações nos dias mais quentes
No mês de janeiro, o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) da capital registrou uma média de 34% de aumento nas ligações recebidas durante os dias mais quentes. Entre 1º e 30 de janeiro, o serviço atendeu, em média, 1.775 ligações diárias, já entre 16 e 22 de janeiro, quando os termômetros subiram, a média chegou a 2.379 chamadas por dia. No período, as principais queixas foram sintomas neurológicos, cardiovasculares e quedas.
A coordenadora de saúde da criança da Secretaria estadual de Saúde (SES), Roberta Serra, conta quais sintomas se relacionam com o calor.
“Em dias de calor, é fundamental que os pais estejam atentos aos sinais que o corpo da criança apresenta, como transpiração intensa, fraqueza, tontura, náuseas e dor de cabeça. Confusão mental, pele muito vermelha, pálida ou úmida, diarreia e vômitos são sinais de alerta que exigem atenção imediata. Caso seu filho apresente esses sintomas, o primeiro passo é oferecer água, mantê-lo em um ambiente fresco e buscar atendimento médico imediato”, orienta.
Também é preciso estar atento ao risco de um Acidente Vascular Cerebral (AVC). O alerta vem de médicos do Hospital Estadual Alberto Torres (Heat). O AVC, chamado popularmente de derrame, é uma das principais causas de morte no Brasil, tendo vitimado 77 mil pessoas em 2023, segundo o Portal da Transparência do Registro Civil.
“Espera-se que ações tomadas no Protocolo de Calor do município do Rio, como disponibilização de pontos de hidratação e resfriamento, adaptação de atividades de trabalho, comunicação constante com a população e suspensão de atividades de risco em níveis mais críticos sejam difundidas e adotadas também em outros municípios, com o objetivo de proteger a saúde da população, sobretudo dos mais vulneráveis”, complementa João Henrique de Araujo Morais.
Com Agência Brasil.