Com a missão de contar as histórias das favelas fluminenses e de seus moradores, surgiu o mais novo jornal impresso de São Gonçalo, Região Metropolitana do Rio. “O Catarinão” busca resgatar a memória e a identidade do bairro Jardim Catarina, naquela cidade.
A criação do jornal, em outubro de 2024, foi uma jornada pessoal para Samara Oliveira, jornalista e fundadora do projeto. Com uma conexão profunda com a história do Jardim Catarina, o bairro mais populoso de São Gonçalo, ela sentia a necessidade de contar as histórias do seu território e, ao mesmo tempo, dar continuidade a um legado importante para a comunidade.
“Ter um jornal comunitário aqui no Catarina é um sonho muito antigo. Quando entrei na faculdade, esse sonho só cresceu. O jornalismo sempre me cativou, principalmente por ser uma ferramenta importante para o reconhecimento do povo negro no Brasil, principalmente após a abolição, quando surgiram as primeiras imprensas negras do país”, compartilhou.
Busca por respostas sobre o Jardim Catarina
Outra grande motivação para o nascimento do jornal foi a própria história do Jardim Catarina. Samara sempre teve perguntas e curiosidades sobre seu bairro, algumas até sem respostas claras, como o motivo de a numeração das ruas pular da rua 10 para a rua 13.
“Cresci com muitas perguntas e percebi que quase ninguém sabia me responder. Isso me fez entender a dimensão do Jardim Catarina, o bairro mais populoso de São Gonçalo. Sempre ouvi dizer que é o maior da América Latina, mas queria saber de onde vinha essa informação. Foi essa busca por identidade e memória que me levou a criar o jornal, para que as novas gerações cresçam já sabendo suas respostas”, compartilhou.
‘O Catarinão’ não foi o primeiro jornal do bairro
Na segunda edição do jornal, “O Catarinão” trouxe a matéria “Não somos os primeiros – O legado de Marcos Delfim”.
Conhecido como Tio Manél, Delfim é um jornalista e morador do Jardim Catarina que foi o pioneiro na produção de um jornal local na comunidade.
Fundou “A Folha Popular”, uma publicação histórica que marcou a trajetória de resistência no bairro.
Desafios para se manter
Apesar do grande apoio da comunidade e da relevância do projeto, os recursos para se manter ainda são um grande desafio para “O Catarinão”. Como um veículo independente, Samara destaca que não conta com apoio de órgãos públicos ou grandes empresas, o que torna cada edição um esforço coletivo.
Ainda assim, com a determinação de manter vivas as histórias do Jardim Catarina, o jornal já caminha para sua terceira edição.
“Quando pensamos no maior desafio, sempre esbarramos na questão financeira. Apesar disso, a vontade de fazer o jornal crescer e dar voz à nossa comunidade é muito maior. Ao falar sobre questões locais importantes, como a lona cultural do bairro, que recebe grandes espetáculos circenses, o jornal cumpre uma função essencial. Se não formos nós a falar sobre isso, quem vai? Se a gente não der visibilidade à lona cultural, quem dará?”, questiona a jornalista.
A favela sob o olhar da própria favela
Samara acredita que contar a história das favelas a partir dos próprios moradores não é apenas um exercício de memória, mas também uma maneira de fortalecer a identidade e o pertencimento local.
“A importância de contar a história da favela primeiro é garantir o direito à memória. As pessoas precisam saber que o lugar onde moram tem relevância para o município e crescer já conhecendo essa história. Isso fortalece o sentimento de pertencimento e identidade. Cada favela tem suas especificidades — não é uma receita de bolo onde todas enfrentam exatamente os mesmos desafios. A missão do Jornal ‘O Catarinão’ é resgatar memória e identidade para evitar o apagamento dessas histórias, algo que sempre foi imposto às populações vulnerabilizadas”, finalizou.
jornal é impresso, mas ainda não tem sede
Atualmente, o Jornal “O Catarinão” é impresso, mas não possui uma redação física, algo que ainda é um sonho para Samara. A equipe é formada por seis pessoas fixas, incluindo duas responsáveis pelas redes sociais, uma pessoa que está construindo o site e uma que escreve mensalmente e ajuda na construção da memória do bairro.
O braço direito de Samara é Marcyllene Maria, cofundadora do jornal. Cientista ambiental, Marcyllene desempenha um papel crucial, pautando temas como território e meio ambiente, além de auxiliar em diversas questões do jornal.