O cenário ainda não é o ideal, mas os primeiros sinais de mudança já são visíveis. Ao menos, mensuráveis. Rio simbólico da Zona Norte, o Maracanã, que nasce cristalino na Floresta da Tijuca e termina sem vida no Canal do Mangue, começa a passar por um processo de transformação. A cada mês, cerca de 25 milhões de litros de esgoto já deixam de cair em suas águas. Isso equivale ao volume de 11 piscinas olímpicas.
Esse marco é resultado de uma série de ações realizadas pela Águas do Rio, empresa do grupo Aegea, ao longo da bacia do Canal do Mangue, com foco no combate a irregularidades e na reconstrução de redes de esgoto. O objetivo é conter, na origem, as contribuições poluentes que comprometem a saúde dos rios urbanos e, em última instância, da Baía de Guanabara.
A primeira etapa do trabalho consistiu no mapeamento de dez quilômetros do leito do Maracanã e de seus afluentes, utilizando vídeo-inspeção com superzoom. O levantamento técnico identificou dezenas de pontos de lançamento clandestino de esgoto em redes pluviais. A partir desse diagnóstico, teve início a fase atual, centrada em obras corretivas, fiscalização de imóveis e notificação de clientes com ligações fora dos padrões.
Entre os casos mais críticos, um edifício na Rua Barão de Mesquita chamava atenção pelo volume despejado. Cerca de 1,5 milhão de litros de esgoto por mês eram lançados diretamente no rio por meio de uma ligação irregular. A situação foi resolvida com a implantação de uma nova rede de esgoto, desligando a antiga conexão clandestina. Até o momento, já foram realizadas mais de 250 desobstruções, cerca de 90 manutenções na rede e a correção de 13 pontos com lançamentos indevidos.
“Neste primeiro momento, o foco das ações de fiscalização na bacia do canal do Mangue são as contribuições no Rio Maracanã. Essa frente de trabalho faz parte do compromisso ambiental da concessionária com a recuperação da Baía de Guanabara e caminha em conjunto com a universalização dos serviços de esgotamento sanitário até 2033, conforme determina o Marco Legal do Saneamento”, afirma Maria Alice Rangel, gerente de Serviços da Águas do Rio.
Coletores em tempo seco vão ampliar os resultados no Maracanã
O Canal do Mangue, destino final do Maracanã, também recebe águas dos rios Papa-Couve, Trapicheiros, Joana e Rio Comprido. Todos são afluentes urbanos marcados por décadas de degradação ambiental e ocupação desordenada. Reverter esse histórico exige planejamento, obras e acompanhamento técnico.
Para os próximos anos, uma das principais apostas da concessionária será a implantação de coletores em tempo seco. Essa tecnologia tem como função interceptar o esgoto despejado de forma irregular nas galerias pluviais. Em dias sem chuva, o sistema capta o esgoto e o direciona para a rede de esgotamento sanitário, impedindo que ele alcance os rios. Em períodos de chuva intensa, a água da enxurrada continua seguindo pelas galerias, sem sobrecarregar a rede de esgoto.
Enquanto as obras avançam, a concessionária mantém um cronograma fixo de monitoramento do Maracanã. Amostras da água são coletadas a cada 15 dias em cinco diferentes pontos do rio. Os parâmetros analisados incluem coliformes fecais, turbidez, pH, oxigênio dissolvido e outros indicadores de qualidade. Os dados servem como termômetro para medir os impactos das intervenções e orientar tecnicamente as próximas etapas do projeto.