Morreu nesta quinta-feira (1), aos 84 anos, a cantora Nana Caymmi. Nana estava internada havia nove meses na clínica São José, no Humaitá, na Zona Sul do Rio, onde deu entrada em agosto do ano passado para tratar de uma arritmia cardíaca.
Dinahir Tostes Caymmi, carioca do Grajaú nascida em 29 de abril de 1941, era a filha mais velha do cantor e compositor baiano Dorival Caymmi e da cantora Stella Maris. É irmã de Dori e Danilo — todos músicos como os pais. Deixa três filhos: Stella Teresa, Denise Maria e João Gilberto.
Início de carreira no disco do pai
Nana gravou pela primeira vez em 1960. No disco do pai, canta “Acalanto” (“Boi, boi, boi / boi da cara preta / pega essa menina que tem medo de careta”), que Dorival compôs em sua homenagem.
“Minha mãe ia gravar “Acalanto”, mas na hora ela tremeu, ficou com medo. A confiança que meu pai teve teve em mim nesse dia foi fundamental para a minha carreira”, contou Nana, numa entrevista em 1973.
Ainda em 1960, Nana lançou seu primeiro compacto, com as músicas “Adeus” (Dorival Caymmi) e “Nossos beijos” (Hianto de Almeida e Macedo Norte). No dia 26 de abril, assinou contrato com a TV Tupi, apresentando-se no programa “Sucessos Musicais”. Em seguida, passou a apresentar, acompanhada por Dori, o programa “A Canção de Nana”, produzido por Eduardo Sidney.
Em 1966, Nana venceu o I Festival Internacional da Canção da TV Globo, interpretando a canção “Saveiros”, do irmão Dori com Nelson Motta. Em 1968, gravou um compacto duplo, em que foi acompanhada pelos Mutantes de Rita Lee, cantando “Bom dia”, “Alegria, alegria” (Caetano Veloso), “O cantador” e “O penúltimo cordão” (do irmão Danilo com Caetano e Sergio Fayne).
Nos anos 1970, Nana gravou novos talentos da MPB, como Marcos Valle, Milton Nascimento, Toninho Horta, João Donato, Ivan Lins, Sueli Costa, João Bosco, Gonzaguinha e Claudio Nucci. E se apresentou pelo Brasil, Uruguai e Argentina. Em 1973, gravou pelo selo argentino Trova, o seu segundo LP, “Nana Caymmi”, com várias composições do pai, “O amor é chama” (dos irmãos Marcos e Paulo Sérgio Valle), “Atrás da porta” (Chico Buarque e Francis Hime), “Pra você” (Silvio César) e “Ahié” (Paulo César Pinheiro, João Donato e Flora Purim).
Em 1975, gravou “Nana Caymmi”, com o repertório do Clube da Esquina. Destaque para “Ponta de areia” (de Milton Nascimento e Fernando Brant, com participações do próprio Milton e de Tom Jobim) e “Beijo partido” (do guitarrista Toninho Horta, que também tocou na faixa, incluída na trilha da novela “Pecado capital”). Neste disco, ela também gravou “Só louco”, do pai, uma das suas interpretações mais emblemáticas.
A filha de Dorival manteve importantes parcerias com pianistas: caso de Donato (com quem viveu um romance), de Cesar Camargo Mariano (com quem gravou “Voz e suor”, de 1983), Wagner Tiso (do álbum “Só louco”, de 1989) e Cristovão Bastos (que também lhe deu um de seus maiores sucessos, “Resposta ao tempo”, parceria com Aldir Blanc, abertura da minissérie “Hilda Furacão”, em 1998).
Em 1991, depois de meses cuidando do filho, que sofrera um grave acidente de moto, Nana participou, ao lado do irmão Danilo, de espetáculo realizado no Rio Show Festival (RJ), que reuniu o pai Dorival e Tom Jobim. Ela ainda cantou, com Dorival e Danilo, no Festival Internacional de Jazz de Montreux. O show foi gravado ao vivo e gerou o disco “Família Caymmi em Montreux”.
Nos anos 1990, lançou o CD “Bolero”, que foi um inesperado sucesso de vendas, com quase 100 mil cópias) e “A noite do meu bem — as canções de Dolores Duran”(1994). Em 1999, foi contemplada com o primeiro disco de ouro de sua carreira, pelas 100 mil cópias vendidas do CD “Resposta ao tempo”.
Distante dos palcos desde 2016, depois de passar por uma cirurgia de remoção de um câncer no estômago, gravou “Nana Caymmi canta Tito Madi” (que em 2019 foi indicado ao Grammy Latino de Melhor Álbum de Música Popular Brasileira) e “Nana, Tom, Vinícius” (indicado em 2021 ao Grammy Latino de Álbum do Ano).
Os casamentos
Em 1961, Nana se casou com o médico Gilberto José Aponte Paoli e mudou-se para a Venezuela. Lá, nasceram as duas filhas mais velhas. Três anos depois, participou do disco “Caymmi visita Tom e leva seus filhos Nana, Dori e Danilo”. No ano seguinte, gravou pelo selo Elenco seu primeiro LP, “Nana” e, em dezembro, separou-se do marido e voltou para o Brasil grávida (do filho João Gilberto).
Em 1967, casou-se com Gilberto Gil. Com ele, compôs “Bom dia”, canção apresentada no III Festival de Música Brasileira (TV Record), em 1967. O casamento só durou até 1968.
Também foi casada com Claudio Nucci (do grupo Boca Livre), entre 1979 e 1984.