O bandido que virou artista. Esse é o título do livro de Sagat-B, escritor de 46 anos, natural de Queimados, na Baixada Fluminense. E esse também é o nome pelo qual o artista tem se tornado cada vez mais conhecido no Brasil, não apenas por seu talento, mas pela história de vida que ultrapassa a criminalidade e encontra na arte uma poderosa ferramenta de superação.
A infância de Sagat-B foi marcada pela ausência do pai, que morreu quando ele tinha apenas um ano. Criado pela avó, com a mãe frequentemente ausente devido ao trabalho como empregada doméstica, ele se viu envolvido com a criminalidade desde muito cedo.
Sagat foi preso três vezes
A falta de uma figura paterna e as dificuldades financeiras o empurraram para as ruas, onde entrou para o tráfico de drogas.
“Fui preso três vezes. A primeira ocorreu quando eu tinha apenas 21 anos. Passei muitos anos da minha vida atrás das grades, sem saber como sair daquela realidade, me sentindo perdido e sem rumo. Eu não conseguia enxergar uma saída. Mas, na terceira prisão, enquanto era algemado e levado para mais uma cela, algo dentro de mim despertou. Foi ali, naquele momento, que tomei uma decisão que mudou tudo: a minha vida iria mudar”, recorda Sagat-B.
Foi na prisão que ele encontrou a literatura
Foi na Penitenciária de Bangu, onde cumpriu 12 anos de prisão, que sua vida passou por uma transformação profunda. No ambiente hostil do cárcere, Sagat-B teve acesso a um projeto social que o apresentou à literatura, uma experiência que alterou sua visão de mundo.
“Levaram uma biblioteca para o presídio e, naquele momento, me apaixonei pela literatura. Foi como se uma nova janela se abrisse diante de mim. Comecei a entender melhor como a sociedade realmente funciona e, aos poucos, percebi algo fundamental: ninguém nasce bandido. O bandido é uma construção social, resultado de circunstâncias e escolhas impostas pelo contexto em que vivemos”, explica.
Publicação do livro em 2022
Essa percepção deu origem ao seu primeiro livro, O Bandido Que Virou Artista, lançado em 2022. Na obra, Sagat compartilha não apenas sua própria história, mas também, como ele mesmo diz, “a realidade de milhares de jovens que entram para o sistema carcerário”. Ele oferece uma visão crua da vida nas prisões e traz reflexões sobre a ressocialização de ex-presidiários.
“Se eu consegui sair dessa realidade, qualquer um pode. A arte me deu oportunidades que eu jamais imaginaria. Ela foi a chave para minha transformação, me tirando da criminalidade e me apresentando a um mundo de possibilidades. A arte tem salvado a vida de muitos jovens, oferecendo a chance de viver outras realidades, enxergar novas perspectivas e, principalmente, acreditar que é possível mudar o próprio destino”, conclui.
Além de escritor, Sagat-B é ativista cultural, rapper e produtor. Ele lidera diversos projetos sociais e atua na ONG África, um espaço sociocultural na comunidade da Mangueira, com o objetivo de promover a arte e a cultura entre jovens periféricos. Utiliza a música para transmitir sua mensagem de luta contra o racismo, a desigualdade e a exclusão social.